quarta-feira, 21 de maio de 2008

Death Cab For Cutie - Narrow Stairs

6/10
Atlantic
2008
www.deathcabforcutie.co



Depois da oportunidade de participar regularmente na banda sonora da série televisiva The O.C., em 2004, o pequeno mundo dos Death Cab For Cutie mudou. Para trás ficava um percurso de alguns anos de discreta visibilidade no orbe indie, com um quarteto de álbuns lançado pela Barsuk de Washington (também é a casa editorial de gente como John Vanderslice, Menomena, Mates of State, Nada Surf, Rilo Kiley ou They Might be Giants) a merecerem reconhecimento moderado da crítica e dos públicos. No ano seguinte, fruto do crescimento da notoriedade da banda, Plans chega aos escaparates com a chancela da Atlantic, rapidamente se tornando no produto de melhor desempenho comercial dos Death Cab For Cutie e oferecendo a Ben Gibbard e seus pares, além de extensa actividade em palco, algo de impensável nos anos anteriores: a nomeação para um Grammy. Com o frenesi mediático a serenar paulatinamente, tanto sobre eles como sobre o projecto paralelo de Gibbard (Postal Service), o quarteto põe termo a um hiato de quase três anos sem gravar (o maior intervalo entre álbuns da sua discografia) e apresenta o segundo tomo da ligação à Atlantic.

Se Plans, talvez o mais polido exercício de murmúrios pop dos Death Cab For Cutie, tinha razoavelmente feito o respaldo de críticas e receios sobre os efeitos que a mudança para uma editora maior traria ao som da banda, este Narrow Stairs desvenda, numa toada emocional próxima do mesmo romantismo resignado e melancolia, um registo diferente. No lugar da placidez acústica que dominava o antecessor, o novo álbum é feito de música ainda calma mas com contornos menos definidos e texturas mais arenosas. No fundo, a aura de desassossego nem sequer é substância original das ementas emocionais de Gibbard, mas surge aqui mais crua e enigmática, mais dissonante (a melodia não é uma obsessão) e abrasiva, e longe da luminosidade e leveza que se entreviam em Plans. Este é, seguramente, o registo mais soturno e espesso dos Death Cab For Cutie, sem contudo perder a fulgência do lirismo da banda, antes sublinhando o medo do abismo sentimental, o lado mais amargo da visão poética que Gibbard empresta à sua música. Musicalmente, Narrow Stairs é simultaneamente delicado e desabrido, tem veio experimentalista e aponta a uma orgânica musculada, hipnótica, fechada e introspectiva. E atrás do pulso existencialista e das sugestões emocionais que o álbum motiva, apenas faltaram as canções sem banalidades que, num ou noutro momento, se parecem adivinhar-se, não chegam à confirmação cabal que a excelência técnica faria presumir. A excepção que mora em "Long Division" ou "I Will Possess Your Heart" não dilui a regra.

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