Quando se soube que os R.E.M. tinham requisitado os serviços do produtor Grant "Jacknife" Lee para arrumar o novo álbum, seria natural conjecturar-se uma viragem rock no som da banda, ou não fosse ele a personagem principal da produção dos últimos trabalhos de gente como os The Hives, os Editors, os Bloc Party ou os U2. As suspeitas subiram de tom quando a tal facto se juntou o anúncio (prévio ao lançamento) de que o título do disco seria Accelerate, em notória reafirmação do saudoso sentido de urgência (e consequente "electricidade") que o rock dos primórdios dos R.E.M. tivera e que, paulatinamente, se foi dissipando na natural depuração de princípios de vinte anos de percurso. Ao mesmo tempo, essa expectativa vinha ao encontro de anseios da legião de fãs da banda, algo desencantados com as últimas performances discográficas da trupe de Michael Stipe e sequiosos de um retorno a fórmulas menos polidas (menos diletantes também) e, portanto, mais próximas da génese. E Accelerate não frustra as esperanças dos mais nostálgicos, sublinhando o investimento num som cru, cortante, breve (o disco fecha ao fim de trinta e quatro minutos), áspero e genuinamente directo. E isso sem deixar de ter o viço de pop-rock independente que é marca dos R.E.M., embora com um revestimento mais musculado e pulsante e, sobretudo, sem ornamentos ou desvios supérfluos. No fundo, esta "aceleração" mais não é do que um recuo às espartanas raízes indie do grupo e isso é, em última análise, uma óptima forma de Stipe, Buck e Mills se redescobrirem e reencontrarem gratificação naquilo que fazem melhor. Os fãs (e o mundo musical) rendem-se ao renascimento dos R.E.M. e é tão interessante ouvi-los assim directos que quase se negligencia o facto de que, a despeito de um punhado de boas canções ("Living Well is the Best Revenge", "Supernatural Superserious", "Houston" e "I'm Gonna DJ"), o álbum nem é tão luminoso (e iluminado) quanto parece.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
R.E.M. - Accelerate
Quando se soube que os R.E.M. tinham requisitado os serviços do produtor Grant "Jacknife" Lee para arrumar o novo álbum, seria natural conjecturar-se uma viragem rock no som da banda, ou não fosse ele a personagem principal da produção dos últimos trabalhos de gente como os The Hives, os Editors, os Bloc Party ou os U2. As suspeitas subiram de tom quando a tal facto se juntou o anúncio (prévio ao lançamento) de que o título do disco seria Accelerate, em notória reafirmação do saudoso sentido de urgência (e consequente "electricidade") que o rock dos primórdios dos R.E.M. tivera e que, paulatinamente, se foi dissipando na natural depuração de princípios de vinte anos de percurso. Ao mesmo tempo, essa expectativa vinha ao encontro de anseios da legião de fãs da banda, algo desencantados com as últimas performances discográficas da trupe de Michael Stipe e sequiosos de um retorno a fórmulas menos polidas (menos diletantes também) e, portanto, mais próximas da génese. E Accelerate não frustra as esperanças dos mais nostálgicos, sublinhando o investimento num som cru, cortante, breve (o disco fecha ao fim de trinta e quatro minutos), áspero e genuinamente directo. E isso sem deixar de ter o viço de pop-rock independente que é marca dos R.E.M., embora com um revestimento mais musculado e pulsante e, sobretudo, sem ornamentos ou desvios supérfluos. No fundo, esta "aceleração" mais não é do que um recuo às espartanas raízes indie do grupo e isso é, em última análise, uma óptima forma de Stipe, Buck e Mills se redescobrirem e reencontrarem gratificação naquilo que fazem melhor. Os fãs (e o mundo musical) rendem-se ao renascimento dos R.E.M. e é tão interessante ouvi-los assim directos que quase se negligencia o facto de que, a despeito de um punhado de boas canções ("Living Well is the Best Revenge", "Supernatural Superserious", "Houston" e "I'm Gonna DJ"), o álbum nem é tão luminoso (e iluminado) quanto parece.
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