segunda-feira, 21 de abril de 2008

Cut Copy - In Ghost Colours




A instantânea internacionalização do trio australiano Cut Copy, na sequência do inesperado debute com Bright Like Neon Love de há quatro anos, mostrou ao mundo musical uma proposta sonora pouco comum no universo aussie, algures entre a synth-pop mais esdrúxula e a reverência às ondas do new wave. E se o primeiro trabalho não escondia algumas "impurezas" próprias de um disco construído essencialmente a partir de gravações domésticas do grupo, depois revistas e experimentadas sob um conceito de álbum, este In Ghost Colours supera essa abordagem rudimentar e acrescenta ao som dos Cut Copy a maturidade técnica que ele impõe. Esse crescimento estrutural da música de Dan Whitford (sintetizadores/programações), Tim Hoey (baixo/guitarra) e Michel Scott (bateria) é, entre outras coisas, resultado da engenharia de som de Tim Goldsworthy, o inglês faz-tudo da DFA, que empresta aos sabores electrónicos da banda um interessantíssimo entusiasmo pelas guitarras enquanto vectores de atmosferas. E é disso mesmo que se alimenta a chama de In Ghost Colours, de uma curiosa aliança entre a química digital e a guitarra gloriosa. Nesse palco de enlaces sugerem-se, como é raro ver-se com semelhante efeito, pontos de contacto entre a electrónica dançante e o pop-rock luminoso, sem que se vislumbre qualquer preferência de uma órbita em relação à outra. Ao lado do pulso rítmico mais generalista e importado das pistas de dança ou da electrónica de massas (aí os Erasure ou os Orchestral Manoeuvres in the Dark são um indisfarçável ponto cardeal), correm construções harmónicas de fino recorte acústico que pedem meças às novas gerações do rock (não estranha que gente como os Bloc Party ou os Franz Ferdinand os tenham requisitado para primeiras partes das respectivas digressões). In Ghost Colours desvenda, portanto, uma arquitectura menos simples da que é anunciada nas primeiras audições e, mesmo assim, desdobra-se em canções triunfantes e viçosas, de construção muito coerente e preenchidas a propósito. Coisa para agradar, ao mesmo tempo, aos indies sequiosos de híbridos, aos saudosistas de pop electrónica vintage e até aos discípulos das escolas de música de dança das últimas duas décadas. E tal transversalidade, sobretudo quando mostrada com a versatilidade, a congruência e o balanço que os Cut Copy aqui exibem, não é assunto de que muitas bandas (e discos) se possam gabar.

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