sexta-feira, 25 de abril de 2008

Four Tet - Ringer

7/10
Domino
2008
www.fourtet.net



Depois de, com o percussionista Steve Reid, ter erguido dois capítulos algo discordantes do cerne da sua discografia individual, então aventurando-se nos prados especuladores da música de improviso, o britânico Kieran Hebden escolheu o formato de mini-ábum (quatro faixas em meia hora) para retornar ao habitat mais confortável, a assinatura Four Tet. Ringer é, no seguimento disso, um exercício reabilitador das principais idiossincrasias de Hebden, um produto das hodiernas castas laptop que ele próprio ajudou a propagar. Nesse particular, olhado por um prisma meramente técnico, o disco não acrescenta notícias substancialmente novas ao cancioneiro Four Tet, antes repisa as costumeiras estruturas cíclicas do músico, com beats e texturas em repetição (essa especificidade é notória, por exemplo, no tema-título), pontuais coloridos importados do cânon ambiental e, sobretudo, o engenho para derivar acidentalmente para fantasiosos efeitos de levíssimo noise sintético. É aí, nessas arestas mal limadas, que melhor se define a identidade única de Hebden, ora testando a resistência do ouvinte - ao insistir, com acinte, em sons maçadores (ouça-se "Swimmer") - ora enchendo os ambientes com poeiras desarmónicas, no limite da cacofonia. O resultado é cru e difícil de degustar (especialmente por ouvidos menos treinados nestas andanças) pela sua natureza acidental, mas revela-se compensador, como outras manifestações do percurso Four Tet, por edificar um edifício melódico a partir de pressupostos anti-melódicos e atrás de uma belíssima camuflagem orgânica. E, pelo meio, com maneirismos polirrítmicos, ressonâncias e complexidade, não faltam minudências para excitar o espírito, enquanto ele se entretém a desfiar a melodia.

Posto de escuta MySpace

Sem comentários: