terça-feira, 8 de abril de 2008

Angel - Kalmukia

7/10
Editions Mego
2008
www.myspace.com/
angelnoise



Segredo muito bem guardado da música escandinava desde 1999, o duo experimental Angel - espaço underground dividido por Dirk Dresselhaus (Schneider TM) e Ilpo Väisänen (Pan Sonic) - tornou-se um trio com a oportuníssima adição do violoncelo de Hildur Gudnadóttir (Múm), em 2004. Se, anteriormente, o par de músicos evocara preceitos musicais livres de formas, ainda que notoriamente afectos aos cavernosos orbes do drone, com a chegada de um terceiro elemento foi possível acrescer outra musicalidade e, sobretudo, esmiuçar valências diferentes dentro do monolitismo reconhecido nas primeiras manifestações. De resto, é como trio que o projecto se esgueira à natural padronização de conceitos que, mais tarde ou mais cedo, acaba por alcançar a maioria dos intérpretes do drone. Claro que Stephen O'Malley é um guru cuja influência é transversal ao trabalho dos Angel - ele até assina a capa deste disco - e são as suas coordenadas que alimentam a inspiração do trio nórdico. Todavia, a estrutura orgânica das composições é diferente e variável, mormente no quarteto de trechos deste Kalmukia. Aqui, Väisänen, Dresselhaus e Gudnadóttir erguem quatro cenografias que, não sendo conceptualmente contrastantes, determinam metas diferenciadas. Ora seguem de perto a previsível cortesia ao ideário Sunn O))), densamente travestido em andamentos ainda mais apáticos e arrastados, quase ao jeito de um western preguiçoso (ouça-se a faixa de abertura), ora buscam a abstracção e a contemplação em texturas sem corpo, electronicamente manipuladas e com o magnífico pranto do violoncelo como voz de comando. Assim desfila o álbum, entre melancolia e interrogação, numa progressão incerta e que propaga ao ouvinte o poder do devaneio, da bizarria e das mutações que a música insinua. Afinal, atrás do som cifrado, a experiência é de emoções franqueadas, é aberta, é profundamente cerebral e tenta, aqui e ali, uma proporção épica que não se adivinharia num "mero" trio de protagonistas. Talvez não chegue a tanto mas, de permeio, Kalmukia é um deleite na descoberta, uma incursão extática em mundos de ilusão a preto e branco, de onde resultam sensações ambíguas, quase desintegradas, algures entre a mais sobressaltada misantropia e o poema declamado entre silêncios de penumbra. E nessa viagem interior sucumbem as considerações de que o drone é género inevitavelmente refém da estagnação. Nada disso acontece na miríade de fabulações dos Angel.

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