terça-feira, 15 de abril de 2008

Clinic - Do It!

7/10
Domino
Edel
2008
www.clinicvoot.org



Quando os Radiohead convidaram os Clinic para fazerem o preâmbulo de grande parte dos concertos da digressão de promoção de Kid A (2000), muitos melómanos ainda nem sequer se tinham dado conta da existência do quarteto de Liverpool. Em boa verdade, à época eles tinham apenas acabado de estrear-se em disco (Internal Wrangler), depois de um punhado de EP's que deixaram os críticos a salivar. Oito anos e cinco álbuns (com este) depois, mesmo não tendo os Clinic (ainda) sido celebrados no mainstream, certamente serão poucos os que não tiveram uma primeira exposição ao art-punk dos ingleses, cujos sinais identitários se centram em três traves-mestras a que a banda se mantém fiel: a degustação nostálgica de vários sabores rock (do primarismo da garagem e do punk a insinuações mais "cerebrais"), a tentação pelo experimentalismo (e alguma esquizofrenia estética) nas texturas e nos ritmos e as pantomimas vocais de Ade Blackburn (às vezes em mimese de Thom Yorke) e Brian Campbell. Também Do It! é leal a esses pressupostos, sublinhando a costumeira curiosidade pela forma e a atmosfera de emoções voláteis que as canções veiculam. É, sobretudo, um disco sem fio-de-prumo, sem preocupações de rumo e onde pouco importam as assimetrias entre (ou dentro) (d)as composições. A plácida paranóia dos Clinic é isso mesmo, um delírio orgânico perfumado, ao mesmo tempo, de retro e vanguarda (mais do primeiro), um elíptico caleidoscópio de cores baralhadas em caos controlado, uma mescla de matérias cruas e ideias elaboradas. No final - tanto de Do It! como de qualquer outra manifestação dos Clinic - fica a impressão de um som cifrado demais para os grandes mercados mas, ainda assim, capaz de convencer aqueles adeptos do imediatismo que têm paciência para espreitar atrás das evidências. E se se confirmam algumas minúsculas nódoas de estagnação - que seriam mais ou menos inevitáveis numa banda com uma identidade algo difusa - que obstam à sua efectiva afirmação daqui para a frente, não é menos verdade que a música dos Clinic permanece um activo sedutor ("Corpus Christi" é o ápice do disco) e que vale a pena visitar.

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