7/10
No Fun
AnAnAnA
2007
www.myspace.com/
smegmatheoriginal
Quem acompanhou mais de perto as manifestações recentes do muito efervescente nicho do free jazz vanguardista americano, terá certamente ouvido falar do colectivo Smegma, cujas origens remontam à década de setenta e às fundações da mítica Los Angeles Free Music Society, o espaço de excelência para a afirmação de estetas mais radicais e voltados, sobretudo, para a especulação e/ou o improviso. A banda viria a mudar-se de armas e bagagens para Portland, já na década seguinte, mas, não tendo renegado minimamente o traço genético de experimentalismo e ousadia criativa das suas origens, sobreviveu às recorrentes contaminações que envolveram alguns dos seus parceiros "geracionais" e é, hoje, uma das poucas vozes subsistentes do movimento pioneiro da LAFMS. Orgulhosamente (auto?) proscritos de qualquer demanda de protagonismo mediático ou sequer de qualquer interferência estética exterior aos seus próprios postulados de incondicional libertinagem de estilos e formas, os Smegma foram acumulando uma sólida discografia de confrontação, em casos pontuais aceitando convergências criativas com outros artífices do noise ou da música livre (os casos mais sonantes são os do nipónico Merzbow, dos compatriotas Wolf Eyes ou do emblema do bizarro zappiano Wild Man Fischer).
Não é estranha, portanto, a aproximação ao trio norueguês Jazkamer que, com cerca de uma década de existência a recriar conceitos do noise mais extremista (aí erguendo pontes com alguns padrões estéticos mais próximos dos cânones metal), fez transbordar a expressão das suas competências além da esfera escandinava e é, presentemente, um dos bastiões com mais substância na cena experimentalista europeia. Da joint-venture absolutamente disforme (ou amorfa, se preferirmos) de Endless Coast, nasce um quinteto de peças sem qualquer pejo em prescindir de regras, ainda que partindo de uma essência mais ou menos importada do free jazz - o que é o mesmo que dizer que a única premissa é não haver premissa nenhuma - e marcadamente desafiante. Embora conceptualmente o trabalho não diste muito do património passado dos Smegma - aí ficando esclarecido o papel de regência neste processo - a interferência dos Jazkamer revela-se uma suculenta adição, sobretudo na forma como se interligam texturas instrumentais e ruídos de ocasião ou quando, coisa menos frequente, o disco deriva para ambientes mais "pesados" e concisos. Nada melhor, para rematar o dadaísmo especulativo dos Smegma (nisso eles lideram o escol), do que o glacial determinismo dos Jazkamer. O desfecho é entrópico, é vândalo como não podia deixar de ser, e só peca por, em certos instantes, não desatar irremediavelmente o caos. Mas, vistas bem as coisas, às tantas a explosão não estava nos planos...
Posto de escuta Sítio da Boomkat
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Quem acompanhou mais de perto as manifestações recentes do muito efervescente nicho do free jazz vanguardista americano, terá certamente ouvido falar do colectivo Smegma, cujas origens remontam à década de setenta e às fundações da mítica Los Angeles Free Music Society, o espaço de excelência para a afirmação de estetas mais radicais e voltados, sobretudo, para a especulação e/ou o improviso. A banda viria a mudar-se de armas e bagagens para Portland, já na década seguinte, mas, não tendo renegado minimamente o traço genético de experimentalismo e ousadia criativa das suas origens, sobreviveu às recorrentes contaminações que envolveram alguns dos seus parceiros "geracionais" e é, hoje, uma das poucas vozes subsistentes do movimento pioneiro da LAFMS. Orgulhosamente (auto?) proscritos de qualquer demanda de protagonismo mediático ou sequer de qualquer interferência estética exterior aos seus próprios postulados de incondicional libertinagem de estilos e formas, os Smegma foram acumulando uma sólida discografia de confrontação, em casos pontuais aceitando convergências criativas com outros artífices do noise ou da música livre (os casos mais sonantes são os do nipónico Merzbow, dos compatriotas Wolf Eyes ou do emblema do bizarro zappiano Wild Man Fischer).
Não é estranha, portanto, a aproximação ao trio norueguês Jazkamer que, com cerca de uma década de existência a recriar conceitos do noise mais extremista (aí erguendo pontes com alguns padrões estéticos mais próximos dos cânones metal), fez transbordar a expressão das suas competências além da esfera escandinava e é, presentemente, um dos bastiões com mais substância na cena experimentalista europeia. Da joint-venture absolutamente disforme (ou amorfa, se preferirmos) de Endless Coast, nasce um quinteto de peças sem qualquer pejo em prescindir de regras, ainda que partindo de uma essência mais ou menos importada do free jazz - o que é o mesmo que dizer que a única premissa é não haver premissa nenhuma - e marcadamente desafiante. Embora conceptualmente o trabalho não diste muito do património passado dos Smegma - aí ficando esclarecido o papel de regência neste processo - a interferência dos Jazkamer revela-se uma suculenta adição, sobretudo na forma como se interligam texturas instrumentais e ruídos de ocasião ou quando, coisa menos frequente, o disco deriva para ambientes mais "pesados" e concisos. Nada melhor, para rematar o dadaísmo especulativo dos Smegma (nisso eles lideram o escol), do que o glacial determinismo dos Jazkamer. O desfecho é entrópico, é vândalo como não podia deixar de ser, e só peca por, em certos instantes, não desatar irremediavelmente o caos. Mas, vistas bem as coisas, às tantas a explosão não estava nos planos...
Posto de escuta Sítio da Boomkat
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