Apreciação final: 6/10
Edição: Planet Mu, Abril 2006
Género: Electro-Jazz/Experimental/Pós-Rock
Sítio Oficial: MySpace
Edição: Planet Mu, Abril 2006
Género: Electro-Jazz/Experimental/Pós-Rock
Sítio Oficial: MySpace
O Kilimanjaro, montanha branca do norte da Tanzânia, bem juntinho à fronteira com o Quénia, é o cume mais alto do continente africano. A mais de 5895m de altitude se erguem neves imemoriais, numa paisagem dominada pelo verde da savana. Esse cenário de contrastes e simbolismo inspirou o baptismo do projecto criado pelos holandeses Jason Kohnen e Gideon Kiers. Dos percursos individuais de ambos, sabe-se que Kohnen tem, sob a assinatura Bong-Ra, um percurso discográfico relevante nos domínios da electrónica irrequieta, de batida frenética e mistura de géneros, a que se convencionou chamar de breakcore, tendo inclusivamente já neste ano lançado (em formato 12'') um quarteto de revisões de Ross Csillag Alat Szuletett, álbum referencial de outro ícone do género, Venetian Snares. Gideon Kiers tem um trabalho menos notado, mas conhece-se o conceito multimédia Telcosystems, cuja estética computorizada lhe permitiu instruir-se nas linguagens sintéticas de vanguarda. O pretexto inicial deste par para a génese do Kilimanjaro Darjkazz Ensemble foi acrescentar música a alguns filmes de culto do circuito mudo, como os inesquecíveis Nosferatu, filmado por Murnau e Metropolis, de Fritz Lang. O progressivo alargamento do conceito a outros músicos, se proporcionou o crescimento formal do som do KDE, não diminuiu a inspiração na cinematografia, como bem se escuta neste álbum. Consideravelmente contrastante com os outros trabalhos de Kohnen e Kiers, a cadência deste tomo apela à inquietude pelo prenúncio de ambientes sombrios. É nesses pastos que se alimenta este animal de jazz livre, quase não-jazz, atraído pela sedução da electrónica compassada e pelos graus mais negros da órbita industrial do drone. Assim se faz um som apaixonante mas perturbador, sem réstias do abrasivo auditivo e das rotações aceleradas do breakcore (como se poderia esperar), antes em busca do aconchego do downbeat e dos efeitos sedativos da electrónica. A surpresa é ainda maior nos momentos em que o disco chega a tocar o primor minimalista, muito perto dos antípodas da assinatura Planet Mu (e do património Bong-Ra). Todavia, o inesperado não deslustra a competência dos trechos, ainda que demonstrem eficácia irregular, por vezes sobrando o juízo de que um ou outro acrescento poderia sublimar o resultado poético das composições.
The Kilimanjaro Darkjazz Ensemble encerra música de bom quilate mas, comparando os sons com o título, despontam paradoxos. De jazz fica apenas uma síntese eventual, no processo evolutivo das composições, na forma como crescem sem formalismos adstringentes, mas esse método revela-se subliminar. O jazz não é, aqui, mais do que colateral, uma espécie de luminária distante e fugaz (como em "The Nothing Changes", peça que abre o disco). Depois, escutado o disco com zelo, as propostas não se mostram tão negras assim; é certo que se procura a protecção das sombras mas, nesse particular, outras experiências mais intensas nos foram oferecidas no corrente ano (vide Altar). Esquecidos os equívocos de baptismo, o álbum é a curiosa revelação de uma mutação diferente de Kohnen e Kiers e, aí sim, dá bom resultado. E, por esse prisma, talvez se perceba melhor a afinidade com os contrastes do Kilimanjaro. Habituados à verdura esparsa da savana electrónica, os holandeses (e amigos) quiseram dar-nos um bocadinho das frias neves que os sons sintéticos também podem oferecer e, com isso, brindam-nos com um tomo de música para absorver com a mente. E trocam os ritmos precipitados da gazela de Thompson pela passada tarda do elefante africano.
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