sexta-feira, 10 de novembro de 2006

M. Ward - Post-War

Apreciação final: 8/10
Edição: Merge Records, Setembro 2006
Género: Cantautor/County-Folk/Indie Pop
Sítio Oficial: www.mwardmusic.com








Alguma auréola de trovador deve proteger M. Ward. Mesmo vendo os seus sucessivos trabalhos repetidamente ignorados pelos grandes públicos, o compositor norte-americano tem-se mantido fiel a um estilo próprio, muito próximo da mais ritualista tradição da country-folk do seu país e tem-nos mimoseado com pequenas preciosidades. Post-War é a proposta mais recente e vem na esteira dos antecessores, na estruturação concisa das canções, peças montadas sem o formalismo rígido que lhes tiraria a alma. Ouvir M. Ward traz à memória as inesquecíveis harmonias de Hank Williams, não tanto na eventual (e pouco sentida) similitude estética, mas sim na espontaneidade e laconismo. Ward, tal como Williams, guarda em trechos breves, um qualquer ápice casual e faz dele um instante singular, com uma incrível intuição rítmica, em tempos mais mexidos (na linha do country festivo) ou em cadência lenta (ao jeito da folk mais minimalista) e, sobretudo, com um apuro melódico natural. Sem artifícios. Música como a de Post-War dispensa conservantes, vive nos ecos tocantes de uma voz mel-áspero e na sobriedade da produção. É aí que o disco se afasta um pouco da regra mínima de Ward. Aqueles habituados à produção espartana de outros exercícios do autor, sentirão um brevíssimo sobressalto no primeiro contacto, por não suporem guitarras com máscara, percussões mais assertivas, teclas pontuais e arranjos mais ambiciosos. É que, ao lado do moço talentoso, há uma banda. E um som de banda. Superada a surpresa, tudo em Post-War é genuíno Ward, ora festivo e colorido (como no belo carnaval blues de "Magic Trick"), ora melancólico e circunspecto (como na enleante "Poison Cup"). Pode mesmo dizer-se, sem merecer a excomunhão, que há um sabor mais pop no disco, o que não é, nem podia ser com M. Ward, sinónimo de lamechice ou condescendência. A pop também pode levar com génio e M. Ward é homem para não fazer a coisa por menos: pesa melodias de menino, fecunda-as com afectuoso pólen primaveril, sopra-lhes a frescura de uma brisa vespertina e acende-as com as luzes do lusco-fusco.

Com Post-War, o seu mais esplêndido trabalho (talvez nivelado apenas por Transfiguration of Vincent), M. Ward investe noutras vibrações, à custa de um registo sonicamente mais farto que, com ágil engenho, se desvia da perdição do esdrúxulo. Crescimento sem hormonas, natural, meramente inato. Assim é também esta reunião de canções: madura, consciente, entusiasta e crédula. E escutar M. Ward é, cada vez mais, ter contacto com um dos melhores sujeitos da música típica americana que tem em Post-War um documento imprescindível. E um dos grandes produtos de ânimo pop para este ano.

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