Apreciação final: 7/10
Edição: Feedelity/Smalltown, Novembro 2006
Género: Electro/Disco
Sítio Oficial: www.feedelity.com
Edição: Feedelity/Smalltown, Novembro 2006
Género: Electro/Disco
Sítio Oficial: www.feedelity.com
Se há espécie de som que parece imperecível é o disco sound. Reinventado, remexido ou remisturado, o género celebrizado por gente como Donna Summer, Gloria Gaynor, Harold Melvin, Boney M, Barry White, Village People ou The Trammps nos 70's, é uma reserva de vibrações a que, com alguma regularidade, os artífices da electrónica (e de outras famílias) recorrem. Piroso e efeminado para uns, dançante e contagioso para outros, o disco é, mais do que uma mera proposta de tons e ritmos, uma sugestão sónica que nos remete para as febres de Sábado à noite, as que John Badham passou à fita, no auge da era disco, com as sequências dançarinas que celebrizaram John Travolta, ao som de Stayin' Alive (Bee Gees). Nessa época, os clubes americanos trocavam as bandas ao vivo pelos vinis, seguindo a moda das discothèques francesas (daí o nome disco), dando espaço às variantes mais ritmadas do soul, da funk e das escolas latinas. É nesses argumentos históricos que se apoia o novo opus de Hans-Peter Lindstrom. Com uma formação de base distante dos formatos mais electrónicos (tocou piano num coro gospel e órgão numa banda de covers dos Deep Purple), o norueguês esbarrou ocasionalmente com o som digital e não mais o largou. Estudioso das estruturas harmónicas e dos parâmetros de produção, Lindstrom chegou à órbita electrónica acostumado a criar melodias com instrumentos reais e emprestou esse entusiasmo às primeiras invenções com um sampler. Daí às edições discográficas, também à constituição de um selo próprio (a Feedelity), foi um pequeno passo. Com um punhado de faixas celebrizadas nos circuitos de música de dança ("I Feel Space" e alguns remixes à cabeça), nem parece que este é o debute de Lindstrom em disco, mas é-o, de facto, ainda que não seja uma edição de originais, antes uma compilação de coisas lançadas em vinis de 12". Afinando pelo diapasão que guiou Lindstrom & Prins Thomas (2005), A Feedelity Affair é um tomo de electrónica sóbria e downbeat, mais voltada para o relaxe do que para o consumo excessivo das pistas, pejada de vectores e reflexos do disco sound.
Dir-se-ia que, hoje, Lindstrom é um artífice de capital importância na regeneração do género disco, pela pertinência com que o aproxima dos planos contemporâneos, sem desistir da essência festiva das origens. Revivalismo sem contaminações. Ao mesmo tempo, o som de Lindstrom, ouvido com esta integridade, perfila-se como algo que vai bem além do rótulo space disco que lhe colaram. O trabalho de síntese é do melhor que existe no espectro actual, com simetrias de sintetizador, vibração 70's e atmosferas de sedução, coisas que mesmo desviando-se, aqui e ali, da prudência "académica", não resvalam para a inconsequência. Depois, momentos como os magníficos dez minutos da peça "There’s a Drink In My Bedroom and I Need a Hot Lady" fazem promessa de recapturar as artes mágicas do disco e suas ramificações. Talvez não cheguem para repescar o blazer justo, a camisinha de colarinho generoso, as bocas-de-sino ou o tacão alto de Travolta, mas que dá vontade de erguer o braço ao alto e abanar as ancas, lá isso dá.
Posto de escutaSítio da Boomkat
1 comentário:
Considero este disco um dos discos do ano. A música de Lindstrom e uma especie de grande maquina sedutora sempre em progressãso, é como se não tivesse o centro típico (introdução, refrão, conclusão) das musicas pop ou electronica. É antes uma deleciosa progressão hipnoptica de sons. Muito bom.
Enviar um comentário