sexta-feira, 3 de novembro de 2006

OOIOO - Taiga

Apreciação final: 7/10
Edição: Thrill Jockey, Setembro 2006
Género: Indie Rock Experimental/Vanguardista
Sítio Oficial: http://ooioo.jp








Tribalismo acelerado na percussão e uma chiclete electrónica, assim são as primeiras notas de Taiga, quinto fascículo das japonesas OOIOO. A extravagância experimental destas raparigas, em contraste com a evidência binária do seu nome, não é já surpresa para ninguém, ou não fossem elas um vector referencial das coordenadas menos convencionais da música asiática. Escutar um opus das OOIOO é aderir a uma causa de contorcionismos vários, um genuíno assalto aos domínios punk com pretextos reformadores, a esticar-lhe os extremos para outras paisagens, de potenciais diversos: subliminarmente pop, psicadélico é certo, de vanguardismo free-jazz, com notas sem agregação especial e destino incerto, de programação electrónica futurista, de noise ou até funk minimalista. Nesse sentido, a música das OOIOO é produto aloucado, é som que se orgulha da imprudência propositada que, as mais das vezes, se torna cacofonia e caos. Mas a babel das OOIOO tem uma ordem intrínseca, uma maneira muito própria e singular de se arrumar no desalinho, recebendo o motim instrumental como uma substância inseparável, dando-lhe sentido e proporção. É assim a ciência de Taiga. Yoshimi P, bateria, voz, guitarra e trompete dos Boredoms, outra referência nipónica, é a persona central da ousadia criativa do quarteto. Nas OOIOO, Yoshimi desnorteia-se por acinte, exponenciando a amplitude do psicadelismo e recriando o conceito global de rock. Sim, porque de rock se trata, não de um rock sem mistura, antes um rock esquizofrénico e mutante, sem maestro óbvio, tribalista, jocoso, e cruzador de géneros. A intoxicação de Taiga vai directa ao cérebro, com mantras corais que tiram êxtase do pormenor e da aparição esporádica e texturas cosidas à agulha, firmadas em percussões acústicas (congas, xilofones, djembés, baterias) e numa feitiçaria sónica ímpar.

Não é normal um disco com semelhante preparo ser acessível. Tão intricadas tramas de sons, contudo, no caso de Taiga, revelam-se estranhamente percebíveis nos primeiros contactos, talvez porque retêm, com astúcia raríssima, uma certa credulidade tribal, algo que, circunscrevendo a identidade do disco a um determinado temperamento, não limita a infinidade de reflexos e estímulos intelectuais que a música crua (mas sofisticada) das OOIOO desencadeia. Sem confusões, a inconstância tonal de Taiga é um regalo para os ouvidos e a melhor licença para fantasiar um universo surreal, com uma floresta tropical onde vivem em comum tribos de canibais, gueixas japonesas sob o efeito de alucinogénios e personagens aposentadas dos livros de comics. Ou isso, ou o que é mais ou menos o mesmo, a hora e pico de exposição aos sons de Taiga.

Posto de escutaUMAIOASAI

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