Apreciação final: 6/10
Edição: Ipecac, Julho 2006
Género: Pós-Rock/Experimental/Orquestral
Sítio Oficial: www.kaada.no
Edição: Ipecac, Julho 2006
Género: Pós-Rock/Experimental/Orquestral
Sítio Oficial: www.kaada.no
Foi pela mão do sempre atento Mike Patton que o norueguês John Erik Kaada chegou até nós. Thank You For Giving Me Your Valuable Time, originalmente lançado na Escandinávia em 2001, foi difundido pela Ipecac há três anos, e mereceu a aprovação rendida da crítica especializada. O álbum assentou com propriedade no carácter genericamente experimental do catálogo da editora de Patton, ainda que o experimentalismo não cavasse um fosso grande entre o conceito de pop cinematográfica e o temperamento orquestral de Kaada. Tudo bem pesado, o registo recorria amiudadamente à manipulação de samples e combinava-os com elementos acústicos (instrumentos ou vozes). A subtileza dos trechos, além de comprovar a perícia técnica de Kaada no manejo de sons anacrónicos, mostrava a competência do produtor e músico em fazer, de coisas aparentemente inadaptáveis, belas peças musicais. Depois de musicar alguns filmes na sua terra-natal e de escrever um álbum conjunto com Patton, o norueguês regressa com um tomo de candura orquestral (as vozes esporádicas não chegam a verbalizar). A provar a quase perversa fixação de Kaada com os gadgets técnicos, ele enche as linhas de um blog com as minudências por detrás das gravações de Music For Moviebikers. Pondo de parte os preciosismos (que interessarão aos partidários da técnica) e depositando a atenção no produto que dela nasceu, o disco confirma a apetência cenográfica da música de Kaada. Um pormenor adicional das sessões de gravação e que não é indiferente a esse facto: Kaada tinha a companhia de um ensemble orquestral de vinte e dois elementos. Por aí, se entende a abertura de ângulos que, com uma frieza maquinal, nos empurram para a evocação de imagens. Tais figuras desenham-se num som que é de uma filigrana instrumental mais rica do que em Thanks For Giving Me Your Valuable Time e onde não cabe o protagonismo central do sampling, antes se derivando para a placidez de orquestrações recatadas, com a cadência demorada duma espécie de adágios poéticos. Não obstante não serem convencionais em sentido estrito e até sucederem no fito cenográfico em alguns instantes, as composições pouco mais apregoam do que a trivialidade comum a produtos deste género, com elegância e delicadeza, é certo, mas sem a surpresa acidental que tão bem Kaada nos deu no passado.
Mudando de verve ou simplesmente apontando ao objectivo de firmar a sua marca como compositor de música para cinema, além das fronteiras da Noruega, Kaada dá-nos um disco mais certinho do que se esperava, longe da anormalidade e das abstracções típicas da Ipecac (e de Thanks For Giving Me Your Valuable Time). Music For Moviebikers busca inspiração nas latitudes western de Morricone, nos friscalettos da Sicília, nas tarantelas do sul de Itália, em Yann Tiersen, no film noir, no folclore do leste europeu, na música gaélica, nas rancheras dos mariachis e nos glaciais pós-rock da Escandinávia. Mais orgânica do que seria de esperar com Kaada, música assim, mesmo não sendo superlativa, tão bem musicaria uma qualquer fita de Capra como uma perscrutação de memórias avulsas dos filmes que ainda não vimos.
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