sábado, 4 de novembro de 2006

Fat Freddy - Fat Freddy

Apreciação final: 7/10
Edição: Cobra Discos, Outubro 2006
Género: Rock Alternativo/Espacial
Sítio Oficial: www.fatfreddy.pt.to








Algumas almas mais atentas a estas coisas da música já tinham sido avisadas com Fanfarras de Ópio (2003), título de debute deste promissor agrupamento matosinhense, que os Fat Freddy são uma charanga dos diabos. Para eles, a música é uma convulsão de tropismos, de motins e comoções recorrentes, de corpos em movimento em órbitas menos definidas e, acima disso, de desvios criativos com a mesma dose de equilíbrio e delírio. Vê-los ao vivo é perceber tal exaltação puxada à derradeira adrenalina, ao serviço de um som futurista, é certo, mas sem pretensiosismo de vanguarda. Dir-se-ia que eles se mexem no orbe rock mas esse rótulo é castrador. Se a fertilidade sonora do disco prévio apontava a composições de cariz fortemente experimental, pautadas pela extravagância, Fat Freddy vai um pouquinho além, forjando idênticas enxurradas de som, com o opiáceo simbolismo cinematográfico do costume, mas com uma viveza reforçada. Mais cor é igual a maior vertigem. E é essa urgência pela tontura o coração das atmosferas de Fat Freddy, cheias de matéria combustíveis, nas guitarras em estalo, nas programações vibrantes, nas percussões viscerais. Tudo junto, Fat Freddy é uma estranha peleja sideral, um bizarro alinhamento de planetas, com guitarras de filmes de espiões e falas sintéticas de alienígenas psicadélicos e admiradores das polkas do levante europeu. Cortante e de ácidos vermelhos, Fat Freddy é de uma continuidade impressionante, ao ponto de poderem dispensar-se os intervalos entre faixas. Mas isso, ironia ambivalente, também joga em seu desfavor: a visão dos Fat Freddy é tão monolítica que não se conserva bem em fragmentos, os mínimos silêncios desbotam um pouco as matizes. Por oposição, também são o garante dos espasmos do disco e o catalisador do sintagma de picos, afinal um dos cunhos intrínsecos do veneno da dupla. Curioso mesmo seria ver como respirariam estes elementos, se conjugados numa extensa peça única...

Fechou-se o ciclo da fanfarra, abriu-se o pórtico do fantástico. Mais ilusório (não falso) do que o antecessor, o segundo trabalho dos Fat Freddy é irrequieto (nem seria de esperar outra coisa) e bem escrito. O lucro da união entre acústico e sintético é maior - como na jucosa revisão de "Das Model", dos lendários Kraftwerk - e mais abrasivo. Nuno Oliveira e Guedes Ferreira são precursores em ares inóspitos, a tactear as formas de uma impressão sonora sem modelo e a impugnar a previsibilidade. Com mais artifícios espaciais e um balanço rítmico mais convincente, Fat Freddy talvez ainda não seja a megalomania sonora que os matosinhenses fazem adivinhar no porvir, mas é uma experiência galopante e fogosa, quase surreal, com manhas futuristas e muito topete. Audácia, bem entendido, é o middle name dos Fat Freddy. E, bem vistas as coisas, não é preciso ser-se um qualquer milionário russo de algibeiras abastadas para fazer um promenade espacial. O novo disco dos Fat Freddy, por uma maquia muito mais simpática, dá uma ideia...

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