segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Beck - The Information

Apreciação final: 7/10
Edição: Interscope, Outubro 2006
Género: Pop-Rock Alternativo
Sítio Oficial: www.beck.com








Após um punhado de álbuns de originais, já é difícil conjecturar sobre a pop moderna sem mencionar a arte de Beck. Sempre à cata de redimensionar-se, o americano tornou-se um dos emblemas do transformismo musical, teoria evolutiva que, aplicada com propriedade a espécies animais, bem serve para caracterizar o percurso do som de Beck. Iluminada por influências das mais díspares correntes, a música de Beck fez-se, numa dúzia de anos, um invulgar híbrido de géneros e tons, com primazia para o alvoroço funk (matéria aderente dos principais êxitos), é certo, mas com insinuações dos mais variados quadrantes, da música latina à electrónica, do folk melancólico ao noise rock, do blues ao free jazz, do lounge ao experimentalismo, do hip hop à pop de flor na lapela. Beck fez de tudo. Embora chegando até nós um ano depois da edição de Guero (2005), o novo disco foi gravado em 2003 e tem a produção de Nigel Godrich (terceira colaboração com Beck), ilustre engenheiro de som dos Radiohead e que, já este ano, pôs a mão em Eraser, estreia a solo de Thom Yorke. E, ao escutar o alinhamento de The Information distingue-se a interferência de Godrich, mormente na segunda metade do disco. Aí, o álbum desvia-se do repisamento de ideias passadas de Beck - traço marcante das primeiras faixas de The Information que, não soando anacrónicas, parecem migrações dos ambientes de Midnite Vultures (1999), com especial glória em Cellphone's Dead e Nausea (Simpathy for the Devil dos Stones cruzada com Loser?), dois trechos do melhor groove que Beck escreveu nos últimos tempos. Depois dessas revelações, progredir na relação de canções é descobrir, a par e passo, uma sonoridade vagabunda, não tão imediatamente amistosa do tímpano mas não menos aliciante. A esse feliz parto não é indiferente o detalhismo de Godrich, uma utilíssima ajuda na construção de subterfúgios electrónicos complexos que, guardando a alma ecléctica de Beck, lhe somam o nervo de vanguarda que melhor casa com as suas raízes.

Claramente mais cerebral, a última metade de The Information é a insinuação escapista de um Beck que se acha, a si mesmo, no meio termo entre os recursos de antanho que o celebrizaram e a visão absurda (como só Beck tem) de uma pop de canções sem régua. Um pouco mais sólido e completo do que Guero, ainda assim, o novel opus deixa algumas pontas soltas e, a despeito da vibração indiscutível e da interessante paleta de sensações que o disco captura, sobram imagens incompletas. Como na coda de encerramento do disco, vaga, comprida e quimérica, pontuada por boas ideias carentes de sublimação. Assim vai a música de The Information, na linha errante e especulativa de Beck, aqui como outra carga dramática, mas sem a reinvenção sonora que se podia esperar. A arca de música de Beck é abundante e esplêndida e abri-la é sempre um acontecimento, mesmo não sendo a maravilha de há uma década atrás.

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