segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Balla - A Grande Mentira

Apreciação final: 8/10
Edição: Chiado Records/Edel, Novembro 2006
Género: Pop Nacional
Sítio Oficial: www.myspace.com/ballaportugal








Armando Teixeira tem sido um dos mais relevantes artesãos da música portuguesa contemporânea e, ao terceiro capítulo de um dos seus alter-egos presentes (o outro é o projecto Bullet...), percebe-se finalmente a inteireza sonora que se adivinhava nos passos anteriores. Já se passaram três anos desde Le Jeu, disco prévio de Balla, e, de lá para cá, Armando Teixeira sublimou as máximas de uma pop lúcida e perfeitamente consciente da sua baliza, com glamour subtraído à sétima arte e cheia de elegância. Novidade em A Grande Mentira é a sóbria presença vocal dele próprio na dezena de canções do disco, coisa não ouvida antes. Além do quase exclusivismo no canto do disco, o músico também puxa para si outros protagonismos, assumindo a responsabilidade das gravações, das misturas e da produção. A Grande Mentira é, por isso, o disco mais pessoal de Armando Teixeira, uma obra de ofício solitário a que se juntam, em meras colaborações esporádicas, Joana Mateus e Sylvie C. , como vozes de suporte, Dj Nel Assassin em skretchs pontuais, Vladimir Orlov no teremin e Paulo Souza na guitarra. Talvez esse isolamento criativo tenha concorrido para a sublimação das noções estruturais do autor, ao formar condições para a emenda de alguns pequenos desconchavos de outros trabalhos e, com isso, levando à depuração do som Balla. Um som opulento em matérias simultâneas mas que, em A Grande Mentira, encontra medidas justas para cada substância e enlaces cheios de oportunidade entre elas. O sabor dominante é, ainda que sabiamente encoberto em alguns trechos, um electro-pop-rock de matriz dançante mas, como não podia deixar de ser num produto Balla, há trajectórias cruzantes de outros géneros, como nos primorosos arranjos dos metais soprados ou do piano, tão perfeitamente integrados no esqueleto predominantemente sintético das canções. Depois, há balanços funk inconfundíveis - assuntos vizinhos do projecto Bullet - e qualquer coisa de uma pop inventiva que se dispõe a cruzar ambientes com fumos de cabaré e sons vagabundos.

Também nas letras, Armando Teixeira parece ter chegado à disciplina certa, ao formar textos sem ardil e empenhados em propagar serenamente um certo intimismo, circunstância também sensível na estética sonora do disco. É aí que reside a chave da empatia automática destas canções, na fidedignidade com que as composições dispensam as habilidades de estúdio e se afirmam, numa sedução cúmplice e honesta, um assomo conciliador do espírito com os ânimos dançantes do corpo (como na contagiante "Vou Fazer-te Brilhar"). Música com tamanha lisura não é feita todos os dias cá no burgo! E, se isso não bastar para satisfazer as criaturas melómanas mais exigentes, a excelência melódico-instrumental do disco faz a maravilha que falta. A Grande Mentira ressuscita os sinais vitais da pop lusa, despertando-a da imprópria letargia recente e aproximando-a das novas órbitas. Uma grande mentira assim pode muito bem ser a única verdade de que o panorama luso estava órfão.

1 comentário:

Anónimo disse...

Relembro-te que Armando Teixeira também andou nos Bizarra Locomotiva.