Cafetra Records, 2013
Já se tinha percebido que a Cafetra se viria a tornar um genuíno antro de delinquência musical, um espaço editorial que acolheria algumas das mais desafiantes expressões artísticas do panorama nacional. Em sensivelmente cinco anos desde a sua criação, a etiqueta atirou aos leões projectos musicais que, noutros tempos, dificilmente veriam reconhecida a sua libertinagem estética, o inconformismo e a predisposição para derrubar preconceitos. O caso do quarteto Putas Bêbadas tornou-se emblemático da filosofia editorial do selo lisboeta, sobretudo por tratar-se de um projecto surgido das sinergias entre os elementos mais desvairados do roster da Cafetra. Miguel Abras (voz, baixo), João Dória (o Nória, guitarra d' Os Passos em Volta), Hugo Cortez (guitarra dos Kimo Ameba) e Leonardo Bindilatti (bateria, também dos Kimo Ameba) são nomes a reter para o futuro próximo, especialmente depois do inesperado reconhecimento de Julian Cope, um dos insignes senadores do mundo alternativo que certamente voltará holofotes internacionais para as trupes doidivanas da Cafetra. E para este Jovem Excelso Happy, primeiro exercício do quarteto.
Trata-se de um disco formalmente desarrumado, ainda que assente num extremismo punk imediatamente percebido no galope de percussões e guitarras e na urgência dos trechos. Mas é muito mais do que isso. Além de uma noção de construção que tem mais afinidades com o caos do que com quaisquer amarras conceptuais - a título de exemplo, ouça-se a esquizofrenia rítmica, o acelera-desacelera de "Abras" -, há lugar para ruído corrosivo, seja nas distorções ou no feedback sem bússola. A voz faz-se matéria psicadélica, vem camuflada atrás de inúmeras fantasias de estúdio, em linha com o ambiente "sujo" e de baixa fidelidade que norteia o disco (e é comum ao catálogo da Cafetra). E quando a irreverência natural de quem faz música simplesmente porque sim se confunde com incontinência (no sentido de absoluto e delirante desgoverno) dificilmente deixaria de tornar-se uma de duas coisas: infantilidade ou cacofonia. E, em boa verdade, Jovem Excelso Happy - porque é deliciosamente imprudente - tem o melhor das duas coisas. É (intencionalmente) pueril na aspereza da produção, mais interessada em expôr impurezas e dar-lhes tribuna do que em tapá-las, e é cacofónico nas ingerências do ruído, no abuso das distorções e até na relação transgressiva entre os vários conteúdos instrumentais. No fundo, é um disco primoroso nas suas entropias e imperfeições (que se chegue à frente o primeiro que perceber as letras todas do disco) e faz prova de que há no burgo gente capaz de rasgos de criatividade tão lunática que é impossível ficar indiferente, ame-se ou odeie-se. Não é um conselho que se dê aos filhos, mas vamos seguir estas putas, bêbadas ou não, estejam onde estiverem!
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Trata-se de um disco formalmente desarrumado, ainda que assente num extremismo punk imediatamente percebido no galope de percussões e guitarras e na urgência dos trechos. Mas é muito mais do que isso. Além de uma noção de construção que tem mais afinidades com o caos do que com quaisquer amarras conceptuais - a título de exemplo, ouça-se a esquizofrenia rítmica, o acelera-desacelera de "Abras" -, há lugar para ruído corrosivo, seja nas distorções ou no feedback sem bússola. A voz faz-se matéria psicadélica, vem camuflada atrás de inúmeras fantasias de estúdio, em linha com o ambiente "sujo" e de baixa fidelidade que norteia o disco (e é comum ao catálogo da Cafetra). E quando a irreverência natural de quem faz música simplesmente porque sim se confunde com incontinência (no sentido de absoluto e delirante desgoverno) dificilmente deixaria de tornar-se uma de duas coisas: infantilidade ou cacofonia. E, em boa verdade, Jovem Excelso Happy - porque é deliciosamente imprudente - tem o melhor das duas coisas. É (intencionalmente) pueril na aspereza da produção, mais interessada em expôr impurezas e dar-lhes tribuna do que em tapá-las, e é cacofónico nas ingerências do ruído, no abuso das distorções e até na relação transgressiva entre os vários conteúdos instrumentais. No fundo, é um disco primoroso nas suas entropias e imperfeições (que se chegue à frente o primeiro que perceber as letras todas do disco) e faz prova de que há no burgo gente capaz de rasgos de criatividade tão lunática que é impossível ficar indiferente, ame-se ou odeie-se. Não é um conselho que se dê aos filhos, mas vamos seguir estas putas, bêbadas ou não, estejam onde estiverem!
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