Hyperdub, 2013
Antes do debute discográfico do ano transacto pela Hyperdub - o muito bem recebido Quarantine - Laurel Halo já havia acumulado episodicamente, em várias editoras e sob nomes diferentes (além do nome próprio ela também assinou como King Felix), uma quantidade razoável de gravações que engrossaram um currículo versado em múltiplas métricas do universo electrónico e que, apenas no primeiro álbum, encontrou a linguagem certa para unificar e dar coerência a essa disparidade de estímulos. Esse momento de afinação estética correspondeu, em concreto, à identificação de uma matriz sonora que "arrumou" a casa das máquinas de Halo e dispensou incongruências. A coisa tem justa sucessão neste Chance of Rain, novo atestado da mesmíssima esquizofrenia electrónica e da ciência desconstrutiva que se conheceu no antecessor. Como antes, embora estas matérias possam ser dançáveis, não estamos em presença de um disco feito para as pistas convencionais. Cada trecho resulta de uma relação pouco amistosa entre ritmo e texturas, em busca da improvável simbiose que há-de nascer da dissonância (escute-se o tema-título, por exemplo). Nesse sentido, Chance of Rain é um álbum de equilíbrios ténues: desafia-se a si mesmo em cada segundo, tentando obsessivamente encontrar os frágeis pontos de contacto entre esses dois mundos. Mas é essa aparente fragilidade, essa proximidade vertiginosa do caos completo e a sufocante percepção dessa curta distância para a cacofonia intragável, a sua força maior. Sentimo-nos seduzidos pela ruína anunciada na amálgama espessa de sons, o compasso faz-se disruptivo, os ritmos esbarram subitamente em gigantes paredes de som grave e esvaecem-se. Fogo-fátuo a brotar da negrura.
Mas Chance of Rain tem outro leitmotiv. É, também, um disco pressionado pela incerteza, onde não há lugar para formalismos estéticos (techno de vanguarda?, reverência kraut?, experimentalismo?, engodo de música ambiental?), nem definições melódicas. O jogo está em tentar adivinhar o que vem depois, qual a variação que se segue. Psicadelismo, pois claro, e sem esconjuro - Halo abre guerra ao ouvinte e não desperdiça munições no risco de extenuar quem escuta. A norte-americana não faz a coisa por menos, aponta descaradamente à disfuncionalidade e acerta na mouche, com sarcasmo. Afinal, música assim fragmentada e abrasiva é um puro exercício de tantalização, uma porta aberta para a miríade de prazeres roboticamente garatujados na mente, mas sem presença física. Um amor platónico.
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Mas Chance of Rain tem outro leitmotiv. É, também, um disco pressionado pela incerteza, onde não há lugar para formalismos estéticos (techno de vanguarda?, reverência kraut?, experimentalismo?, engodo de música ambiental?), nem definições melódicas. O jogo está em tentar adivinhar o que vem depois, qual a variação que se segue. Psicadelismo, pois claro, e sem esconjuro - Halo abre guerra ao ouvinte e não desperdiça munições no risco de extenuar quem escuta. A norte-americana não faz a coisa por menos, aponta descaradamente à disfuncionalidade e acerta na mouche, com sarcasmo. Afinal, música assim fragmentada e abrasiva é um puro exercício de tantalização, uma porta aberta para a miríade de prazeres roboticamente garatujados na mente, mas sem presença física. Um amor platónico.
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