sábado, 9 de novembro de 2013

Sky Ferreira - Night Time, My Time


7,4/10
Capitol, 2013

É um curioso statement de emancipação que uma personagem musical de tenros 21 anos diga que teve que debater-se pela integridade do som que imaginava para o seu disco de debute. A regra comum no universo pop é a de não cedência das oligarquias editoriais naquilo que se instituiu como o normativo de construção de um ícone e isso envolve, naturalmente, um certo condicionamento das suas opções estéticas. São as regras mercantilistas do mundo moderno e a elas não escapa a grandíssima maioria dos artistas sem estatuto no orbe musical e que optam por veicular a sua música nos canais "tradicionais" das majors. O caso da americana Sky Ferreira é excepção a essa regra; a jovem assinou contrato discográfico ainda na adolescência (aos 15 anos) e, de então para cá, dedicou-se à construção solitária de uma colecção considerável de canções que, agora, encontram resumo neste Night Time, My Time, depois de sucessivamente não passarem o crivo editorial, até este ano. No decurso deste processo de rejeições consecutivas, o facto de alguma da sua obra ter sido tornada pública, com algum êxito, na forma de singles  ou EPs, contribuiu para a manter sob os radares da crítica especializada e aguçar a curiosidade para a chegada do tão aguardado longa-duração. Com o mediatismo dos seus trabalhos de manequim e de alguns episódios embaraçosos com drogas estava lançada a controvérsia: estaríamos perante alguém que cabia no rótulo de músico ou apenas uma pseudo-estrela de expectativas goradas?

Agora que o disco está finalmente editado, percebe-se que não estamos em presença de uma proposta pop inteiramente convencional, no sentido de não abraçar o ideário contemporâneo. Assim se entende porque ela teve que defender este trabalho perante a desconfiança da Capitol. Há um fundo electrónico de sintetizadores oitentistas ("24 Hours" é exemplo emblemático desse pendor) a percorrer o alinhamento de uma ponta à outra e que insinua um certo anacronismo que, como é bom de ver, não encheu as medidas da editora. O que até já se adivinhava em "Everything is Embarassing", impactante single de 2012 (não presente no disco). Mas a coisa não se fecha nos sintetizadores; moram aqui indiscutíveis matérias pop-rock (ouçam-se "Omanko", a mais "deslocada" faixa do disco, "You're Not the One" ou "I Will") que apontam a outros horizontes estéticos. Uma nota para a produção que mergulha os momentos mais efusivos - e, portanto, mais próximos do resvalo para a banalidade - num curioso (e cheio) nevoeiro de sons que lhes acrescenta vigor, sem sufocar o registo vocal. Além disso, e como convém a um disco pop estão cá os indispensáveis instantes orelhudos, aqueles que supostamente virão a alimentar as tabelas de vendas. No final, sobram sensações mistas, a de se saudar o recurso a referências musicais interessantes, assim fintando a "chata" padronização da pop contemporânea e, também, a de perceber a mediania de alguns trechos. A exposição na capa, em fotografia do realizador argentino Gaspar Noé, também deu celeuma mas, bem vistas as coisas, atrás da aparente intenção de mostrar candura, o que se vê é apenas mais um capítulo da crescente (e dispensável) tendência das estrelas pop confundirem sensualidade com exibicionismo bacoco.

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