Domino, 2013
Mesmo tendo tido um papel nada despiciendo na cena musical britânica dos últimos anos, sobretudo em razão dos serviços de escrita prestados a gente como Chemical Brothers, Basement Jaxx ou Florence and the Machine, Devonté Hynes não granjeou ainda a afirmação a título próprio que muitos lhe antecipavam há anos. Apesar disso, a assinatura dele tem revelado impressionante ubiquidade, seja em bandas-sonoras, seja em livros ou seja nas (mais habituais) colaborações com artistas de reconhecido calibre mediático. A título de exemplo, fez recentemente furor a confissão pública, no Twitter, de que nenhuma das suas criações para o disco de Britney Spears (a lançar nos próximos dias) faria parte do alinhamento final. Seja como for, com o heterónimo indie-pop Lightspeed Champion em hibernação há sensivelmente três anos, Hynes deitou mãos à continuidade do seu alterego mais new wave/soul/funk, de que não havia novidades desde o debute discográfico, no Verão de 2011.
Da sua escrita, sempre se soube ser um reflexo humanista e relativamente cru de experiências pessoais em que o denominador comum é a angústia de um desfavorecido, de alguém que era frequentemente maltratado na escola e que cresceu envolto na desigualdade social e no lado mau da vida. Não surpreende, portanto, que este Cupid Deluxe se dimensione em volta desses princípios de consciência social e verse o submundo dos desalojados dos subúrbios de Nova Iorque, mormente o fenómeno crescente da prostituição gay e transgénero.
Tecnicamente, o álbum não se limita a recalcar as pisadas do antecessor Coastal Grooves, indo mais longe no privilégio das electrónicas enquanto matéria soul/funk. Claro que essa investida abre a paleta a orientações de várias escolas, perdendo-se um pouco o norte estético do registo. A despeito disso, a profusão de contributos vocais e técnicos introduz uma dinâmica interessante. Do elenco fazem parte David Longstreth (Dirty Projectors), Adam Bainbridge (Kindness), Mike Volpe (produtor que assina como Clams Casino), o rapper Despot, Samantha Urbani (Friends), Skepta, Caroline Polachek (Chairlift), entre outros. Muita gente, como conviria a uma mente aberta (e ecléctica) como a de Hynes. E, bem vistas as coisas, a aparente vagueza do disco não é sinónimo de desleixo, nem sequer de falta de rumo. Nesta viagem de Cupid Deluxe não é sequer o destino que importa; o trajecto, esse sim, mesmo que vacilante, é a recompensa. Vale a pena fazer trinta por uma linha para chegar a boas canções pop.
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Da sua escrita, sempre se soube ser um reflexo humanista e relativamente cru de experiências pessoais em que o denominador comum é a angústia de um desfavorecido, de alguém que era frequentemente maltratado na escola e que cresceu envolto na desigualdade social e no lado mau da vida. Não surpreende, portanto, que este Cupid Deluxe se dimensione em volta desses princípios de consciência social e verse o submundo dos desalojados dos subúrbios de Nova Iorque, mormente o fenómeno crescente da prostituição gay e transgénero.
Tecnicamente, o álbum não se limita a recalcar as pisadas do antecessor Coastal Grooves, indo mais longe no privilégio das electrónicas enquanto matéria soul/funk. Claro que essa investida abre a paleta a orientações de várias escolas, perdendo-se um pouco o norte estético do registo. A despeito disso, a profusão de contributos vocais e técnicos introduz uma dinâmica interessante. Do elenco fazem parte David Longstreth (Dirty Projectors), Adam Bainbridge (Kindness), Mike Volpe (produtor que assina como Clams Casino), o rapper Despot, Samantha Urbani (Friends), Skepta, Caroline Polachek (Chairlift), entre outros. Muita gente, como conviria a uma mente aberta (e ecléctica) como a de Hynes. E, bem vistas as coisas, a aparente vagueza do disco não é sinónimo de desleixo, nem sequer de falta de rumo. Nesta viagem de Cupid Deluxe não é sequer o destino que importa; o trajecto, esse sim, mesmo que vacilante, é a recompensa. Vale a pena fazer trinta por uma linha para chegar a boas canções pop.
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