8,4/10
Crammed Discs, 2013
Apesar de se ter sido como comediante que se tornou figura mediática nas latitudes hispânicas da América Latina, Juana Molina vem trilhando um trajecto consistente nas lides musicais. Embora possa ser pouco mais do que uma incógnita para muitos, Molina completa agora um sexteto de compactos iniciado em 1996. Nessa colecção de discos, mesmo não tendo ainda erguido uma verdadeira obra-prima, a compositora e instrumentista desvendou uma sólida e curiosa relação com a invulgaridade. A música de Juana Molina não é convencional, nem sequer tenciona sê-lo. Buscando convergências orgânicas entre a música ambiental, as sugestões electrónicas de vanguarda e a música de cantautor, Molina fundou um espaço sonoro muito próprio e que lhe rendeu, em algumas ocasiões, comparações com Björk. E há, de facto, algumas simetrias entre o seu universo de sons e o da islandesa, embora na estrutura estejamos a falar de matérias substancialmente diferentes. Tomando como exemplo este Wed 21, as composições partem de um esqueleto de loops a que se somam, depois, o pulsar pontual de percussões em várias formas e cadências, a aleatoriedade de electrónicas ruidosas e até alguns acrescentos instrumentais. Da mistura, acaba por sobrar uma interessantíssima relação de afinidades entre orgânica, voz e ruído, mesmo nos instantes em que um se sobrepõe aos outros, a caminho da confluência que lhes dá o sentido final. Trata-se, portanto, de música construída com conhecimento da importância do detalhe e dos malabarismos necessários à moldagem dos loops, sem cair na banalidade. E, nesse particular, o álbum resulta muito bem enquanto produto que finta a redundância, com proporção nos elementos e a dose certa contenção. Torna-se familiar (não confundir com previsível) na estranheza, por soar tão robótico, estranho, psicótico e delirante. É já indiscutível que Juana Molina possui uma visão musical praticamente sem paralelo na música experimental contemporânea e cada disco seu é um ingresso para um mundo extraordinário. E este Wed 21 pode muito bem ser o melhor que ela nos deu até hoje.
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