domingo, 11 de junho de 2006

Dead Combo - Quando a Alma Não é Pequena, Vol. II


Apreciação final: 7/10
Edição: Dead & Company/Universal, Março 2006
Género: Instrumental
Sítio Oficial: www.deadcombo.net








O segundo trabalho dos portugueses Tó Trips e Pedro Gonçalves é uma declaração de maturidade musical. Quatorze faixas da melhor música instrumental (guitarra eléctrica e contrabaixo) que se faz em terras lusas. No primeiro registo, a dupla portuguesa havia desenhado os contornos de um dialecto sonoro pouco comum entre nós, uma espécie de música de western, com especiarias emprestadas pela mais característica tradição musical lusa, o embalo nostálgico e pesaroso do fado. Não surpreendeu, portanto, que, com tais ingredientes, a dupla tenha suscitado a curiosidade da comunidade melómana nacional e, por arrastamento, o reconhecimento da crítica a uma aura musical distinta, urbana, feita com paixão e, acima disso tudo, com uma excelência técnica intocável. Neste segundo álbum, os músicos foram mais além. É certo que persiste a entoação plangente da alma lusa mas, agora, o híbrido dos Dead Combo alarga horizontes a outras referências, não se coibindo de namorar famílias de som de origens desiguais, mormente as sonoridades afro, algumas texturas com insinuações de etnia cigana ou do folclore klezmer, umas pitadinhas tímidas de jazz, das tarantelas do sul de Itália ou até do tango/flamengo latino. E nada disto minora a conformidade do disco com os princípios dos Dead Combo. Pelo contrário, o alargamento do espectro de influências confere-lhes outras medidas (e melodias amplificadas), sem congestionar exageradamente o ambiente único de poesia instrumental do álbum ou a vitalidade minimalista do som.

Quando a Alma Não é Pequena, Vol. II é o segundo passo do percurso deste par de lisboetas que, com a ajuda de um rol extenso de ilustres convidados (Paulo Furtado, Peixe, João Cardoso, Sérgio Nascimento ou Nuno Rafael), concebeu um disco que, sendo português, calha bem em qualquer parte do mundo. Aliás, essa verosímil universalidade, não tão visível no primeiro disco, é o argumento mais consistente de um trabalho coeso. Íntimo e sem traumatismos, Quando a Alma Não é Pequena, Vol. II é um daqueles discos carregados de expressividade e presta uma justa homenagem (não óbvia!) a dois ícones da cultura lusa (Carlos Paredes e Fernando Pessoa) que, não estando gravados no disco, nele flutuam persistentemente. Afinal, os Dead Combo são também mensageiros desse ambivalente alento lusitano: de um lado, a saudade taciturna; do outro, a galharda certeza de que há um bocadinho de nós em cada canto do mundo.

1 comentário:

Spaceboy disse...

Até agora é o meu disco preferido do ano nacional.