quinta-feira, 1 de junho de 2006

Mono - You Are There

Apreciação final: 8/10
Edição: Temporary Residence, Abril 2006
Género: Pós-Rock/Experimental
Sítio Oficial: www.mono-44.com








Convencionou-se chamar pós-rock à gama extensa de sonoridades que, conjugando experimentalismo com as mais diversas derivações dos padrões do rock estandardizado, criam ambientes quase arrítmicos, estendidos demoradamente no tempo e com persistência no limiar da hipnose auditiva. Na antítese da pujança visceral do rock clássico, o pós-rock é música cerebral, vagarosamente corrosiva e menos regrada: é praticamente indiferente às noções estruturais de canção, aos preceitos métricos básicos ou aos acertos de acordes convencionais. Oriundo do Japão, o quarteto Mono toma parte desta família sonora e apresenta-nos, ao quinto longa-duração, um som tenso, maduro, com rótulo de autor. Mais melódico do que os anteriores registos dos nipónicos, You Are There é também a peça de maior veemência instrumental do grupo, mantendo a dinâmica movediça que os caracteriza, em sucessivas alternâncias a forçar o cotejo entre a toada melancólica dominante e pedaços viciosos de acento drone, mas acrescentando amplitude ao espectro tonal. You Are There tem qualquer coisa de ritualista e minucioso, como se propositadamente arrastasse a tensão de cada faixa rumo à contingência de um fragor que nem sempre é certo e cuja iminência nos agarra do princípio ao fim das seis composições, num deleite ávido.

A música deste You Are There não é de trago único. O timbre transcendental oferece ao disco a substância emocional que não pode faltar a um produto destes. Não obstante isso, a redundância das texturas acaba por torná-las ligeiramente derivativas, em determinados vértices do álbum, a despeito da primazia dos arranjos de cordas que servem, a propósito, o seu pressuposto amparador. Mesmo assim, You Are There é um sublime exercício técnico do melhor pós-rock que se escreve no planeta e, se alguma omissão houver de lhe ser apontada, é a minguada voltagem dos instantes mais expansivos do disco. Desconsiderando essa minudência, You Are There dispensa dicionários. Escutar esta obra é adivinhar nas entrelinhas, pela música de um dos mais insígnes militantes da causa, a mais cabal definição de pós-rock.

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