quarta-feira, 21 de junho de 2006

Charalambides - A Vintage Burden

Apreciação final: 7/10
Edição: Kranky Records, Maio 2006
Género: Pop-Rock Alternativo/Minimalista
Sítio Oficial: www.kranky.net








Há qualquer coisa de desarranjado no último som dos texanos Charalambides. Nada de opulência ruidosa, nada de malabarismos melódicos ou dissonâncias pouco digestivas. Além da parcimónia instrumental que se alastra a todos os cunhais do alinhamento do novo disco, a música ergue-se frágil e amplamente espiritual, não fosse esse o dogma do casal Carter. A Vintage Burden é um depoimento despojado, um registo contemplativo de meditações, ao jeito de uma enternecedora e demorada canção de embalar. A voz sedosa de Christina Carter enche os espaços minimalistas desenhados nas rendas de guitarra do seu marido, Tom. Os tempos são propositadamente arrastados, repetem-se sem oscilações de curso e insinuam, à boa moda do psicadelismo casto, o talhe assombrado das composições. Sem tocar extremos, o mavioso balanço do disco reporta a um deslumbrante bailado de fantasmas, num éden imaterial e obscuro. Assim impalpável é também a música de A Vintage Burden, como se fora obra de magos ancestrais a experimentarem música do firmamento. Quase intangível.

Raras vezes os Charalambides fizeram finca-pé da melodia como neste A Vintage Burden. Esse é o sopro de sobrevivência destas composições. Mais próximos dos paradigmas do que noutros trabalhos, os texanos ousaram impôr-se um conceito minimalista de canção; com isso, abreviaram a miríade de símbolos do espectro sonoro habitual à sua mínima expressão e intimidade, sem lhes encurtar a nobreza, provando que, por vezes, a melhor ciência é aquela que resume as coisas à mais imaculada essência. E A Vintage Burden é a quididade dos Charalambides, o esconderijo de intimidade da sua música, o abismo lúgubre de inquietação de onde tudo descende, o palco de sonhos lânguidos e sem corpo. A arrepiante e bela "Spring" ou o longo instrumental "Black Bed Blues" fazem os cúmulos de uma meia-dúzia de peças do mais apaixonado e nocturno que os Charalambides escreveram e corroboram uma certeza: eles têm lugar no nicho mais talentoso da música independente americana. E que a psique humana se serve melhor na discreta emoção de uma canção despojada.

1 comentário:

Anónimo disse...

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