Apreciação final: 8/10
Edição: XL Recordings, Julho 2006
Género: Electrónica/Downtempo/Lo Fi
Sítio Oficial: www.theeraser.net
Edição: XL Recordings, Julho 2006
Género: Electrónica/Downtempo/Lo Fi
Sítio Oficial: www.theeraser.net
Ninguém duvida da boa forma de Thom Yorke. Líder de um dos projectos mais emblemáticos da música alternativa britânica, Yorke foi co-responsável por algumas das obras fundamentais do mundo indie (Ok Computer (1997) à cabeça), na orla das famílias musicais mainstream e, acima disso, cultivando um género privativo, orgulhoso de se alhear de modas. A tonalidade dos trechos sonoros dos Radiohead sempre se demarcou de tendências e, ao invés, perfilhou instintos reformadores da pop tradicional. Pelo prazer da boa música. Como hedonista musical impulsivo, não surpreende que Thom Yorke tenha querido experimentar outros prazeres. Em The Eraser, primeiro exercício solitário do seu percurso, a volúpia chega-lhe em formas imprevistas, no pulsar químico da electrónica e das programações. Imaginá-lo de mãos no laptop à procura da beat que melhor pactua com o registo volante e frágil da voz, não seria provável com os Radiohead. The Eraser é feito de texturas maquinais, fraseados que se repetem sem fecho. As costuras são vocais, é aí que se acham os remates para os desvarios electrónicos. Dir-se-ia que Yorke se deixou levar por alucinações digitais, primeiro compondo as peças sintéticas, depois lhes somando a voz, qual elemento central (e natural), ao jeito de um epílogo que confere o sentido final e a complexidade melódica às peças.
Será The Eraser um exercío de catarse escapista? Um laboratório do porvir dos Radiohead? Ruptura não é, certamente. A produção minuciosa é de Nigel Godrich, habitué nas edições dos Radiohead, e embora o álbum siga por trilhos distintos, a sua propensão imaterial e embalo hipnotizador traçam paralelismos com o espectro sonoro dos Radiohead, coisa menos óbvia nas primeiras audições. The Eraser é um disco que cresce a cada escuta, oferecendo-nos um testemunho em transe de que o aceno da electrónica revigorou a criatividade e deu novas medidas às cordas vocais de Yorke. Negro, melancólico e experimental, The Eraser pode ser o primeiro dia do resto da vida de Yorke. Ou dos Radiohead na primeira pessoa. Em qualquer dos casos, resta ouvir, nos timbres deste disco, a mais apurada expressão de um clone digital de Thom Yorke, um dos mais hábeis músicos da sua geração. Ou isso ou, ironia maior, uma espreitadela à antecâmara da próxima mutação dos Radiohead. Aceitam-se apostas.
4 comentários:
Os Radiohead não são britânicos?
Daniel, obrigado pela correcção. O lapso já foi rectificado. É óbvio que são britânicos.
Concordo inteiramente com o texto. Thom Yorke em grande. Só espero que os Radiohead não acabem e mantenham esta qualidade.
Where did you find it? Interesting read » »
Enviar um comentário