Apreciação final: 8/10
Edição: Ipecac Records, Setembro 2005
Género: Instrumental/Banda Sonora
Sítio Oficial: www.enniomorricone.com
www.ipecac.com
Edição: Ipecac Records, Setembro 2005
Género: Instrumental/Banda Sonora
Sítio Oficial: www.enniomorricone.com
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A alusão ao nome do compositor Ennio Morricone remete-nos imediatamente para o imaginário dos tempos áureos do spaghetti western, mormente para o clássico O Bom, o Mau e o Vilão (1966), de Sérgio Leone, cuja banda sonora - escrita por Morricone - ascendeu aos anais da música para a sétima arte. Contudo, reduzir o impacto da música do maestro italiano a essa esfera é uma asserção redutora. Com mais de cinco centenas(!) de bandas sonoras escritas, o vínculo de Morricone aos westerns é apenas uma pequena porção do seu trabalho. Dispersas em dezenas de filmes italianos com pouca expressão do início da década de 70 (1969-1974), as composições compiladas neste duplo CD revelam aspectos menos divulgados da música de Morricone. Aqui, a linguagem musical é diferente da combinação rock/clássica avant-garde que revolucionou os filmes de cowboys. Não surpreende que a edição tenha a chancela da etiqueta de Mike Patton (Ipecac). Embora a escolha das faixas seja da responsabilidade de Alan Bishop, a aura sonora deste trabalho traça paralelas com os esquemas experimentais dos ambientes sonoros de Patton. De facto, as trinta composições de Morricone que enchem este Crime and Dissonance fazem apelo a uma atmosfera ambígua, algures entre a inventividade do jazz, o psicadelismo (des)construtor de formalismos e o vigor experimental de Part ou Ligeti. Depois, vagueiam como vigilantes, sobre a orgânica precisa das composições, os vultos de interferências célebres: os ambientes de espionagem James Bond, o groove esporádico de Miles Davis, os orgãos e jogos melódicos do barroco, o laconismo das cordas, as vocalizações esparsas (ora assombradas, ora hedonistas), os efeitos sonoros de requinte.
A sugestão imagética deste álbum percorre as insinuações cinematográficas do terror, do suspense, do sexo e da espionagem. É um disco declaradamente obscuro e lúgubre; rebusca os vectores mais grotescos da música de Morricone e expõe a virtuosa controvérsia do seu génio. Crime and Dissonance é o resumo musicado de uma infinidade de emoções, como uma película que corta e cola os pedaços mais inquietantes de um punhado de filmes e que se vê em fast forward, sem tempo para recuperar o fôlego ou para fugir à constrição claustrofóbica que reduz os hemisférios do cérebro. Ao escutar este Crime and Dissonance apetece fechar os olhos, abraçar a magnitude de cada amostra de sons, perceber a integridade de cada peça e desenhar romanticamente na mente uma fita cinematográfica repleta de vilões vencedores e sem lugar para heróis. Música desta não se ouve. Vê-se e sente-se. De preferência com a porta fechada, não vá aparecer por aí alguma criatura tresmalhada ou um espião desorientado.
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