segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Konono n.º 1 - Congotronics

Apreciação final: 7/10
Edição: Crammed, Março 2005
Género: Tradicional/Tribal/Africana
Sítio Oficial: www.crammed.be/konono








Um dos mais notáveis colectivos musicais da República Democrática do Congo, os Konono n.º 1 já contam um quarto de século de existência. Oriundos da capital Kinshasa, os Konono são obreiros de um som artesanal, com raízes na cultura do likembé (instrumento rudimentar típico do Congo ao jeito de um piano de polegar com finas teclas de metal presas a uma caixa de ressonância) e que lança mão de bugigangas várias e ferro-velho para construir uma eloquente soma de sons e vibrações. Assim, o likembé é electrificado artesanalmente, restos de sucata servem de percussão e megafones amplificam as vozes em grupo. O conceito musical é inovador e compõe uma boda musical de cardápio inteiro, num tom festivo contagiante. Cerca de uma dúzia de músicos suscitam um transe festivaleiro que deriva de composições que não se regem por normas e que se orgulham da sua atipicidade, indiferentes a qualquer métrica temporal ou disciplina constrangedora. O engenho dos músicos é certificado na mistura tribal de um legado que vem de tempos longínquos com o traço de modernidade da experimentação e do improviso. A estrutura das composições é, de certa forma, aliterante como convém à boa tradição do bazombo e ao costume do trance do Golfo da Guiné e da África Ocidental. Mas essa repetição não produz tédio, antes perpetua um invento musical irresistível, simultaneamente rústico e pleno de urbanidade, uma convocação imparável para a dança em forma de celebração.

Congotronics é um circo de palhaços pobres e esboça uma linguagem musical nova em melodias simples e vocalizações de parada e resposta num clima jubiloso que nos reporta para as boulevards arborizadas de uma Kinshasa engalanada para um dia de festa. São discos como este que nos fazem saber que, algures num cantinho recôndito da vastidão do planeta, há um tesouro musical castiço ainda por achar e que há-de desatar novas aptidões e sugerir outros limites para a música. Nem que, como no caso dos brilhantes e divertidos Konono n.º 1, isso tenha que levar vinte e cinco anos. Afinal, o palhaço pobre também ri. E dança.

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