segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Fiona Apple - Extraordinary Machine

Apreciação final: 6/10
Edição: Epic, Outubro 2005
Género: Pop Alternativa
Sítio Oficial: www.fiona-apple.com








A dissecação do último trabalho de Fiona Apple impõe umas considerações prévias. Segundo se diz, a etiqueta da compositora, a Epic Records, vinha mantendo este trabalho nas prateleiras, desde 2003, sob o pretexto de não ser suficientemente vendável. Contudo, as sessões de gravação originais, sob a produção de Jon Brion, começaram a circular clandestinamente pela internet ainda no começo deste ano, em resposta aos anseios de fãs ávidos por um álbum novo - a última edição da cantora remontava a 1999 - motivando um estranho burburinho em torno das novas canções e precipitando o seu lançamento oficial, em Outubro. Por decisão de Apple, as composições mereceram nova masterização (à excepção do tema título e de "Waltz (Better Than Fine)") e o álbum saiu para as lojas. A estética carnavalesca da produção de Brion, se emendava com propriedade algumas composições de Apple, parecia algo hiperbólica noutras, tornando a música da compositora um pouco mais fechada e impenetrável. E essa assinatura progressista não era a que interessava à Epic. Pode dizer-se que a edição publicada das canções tem menos liberdade artística; o trabalho de Mike Elizondo (produziu Eminem, 50 Cent e Gwen Stefani, entre outros) retirou o peso da excentricidade de Brion e abriu a música de Apple. Mesmo assim, as músicas não são imediatas, exibem um trejeito pop pouco comum, quase barroco, a piscar o olho à maleabilidade jazz e escondendo as melodias por detrás de um código musical complexo. Chame-se-lhe pop erudita, esta música não encaixa na classe da pop mais amiga do ouvido, é de outra linhagem, lavrada sob cláusulas diferentes de exuberância orquestral. Os elementos centrais, o piano e a voz de Apple, são amparados por arranjos nobres, embora as versões finais de Elizondo soem mais ligeiras.

Extraordinary Machine não é a prodigiosa bateria de canções de charme que a versão bootleg prometia. Depois de escutar o projecto inicial, a versão de Elizondo redunda numa depreciação da arte inegável de Apple. Brion havia moldado a música de Apple muito além das delineações pop, adicionando-lhe argumentos ímpares e um traço de sedução subliminar, elevando a voz de Apple a uma imponência não vista antes. Nesta edição, o toque de Elizondo subjuga a amplitude dos arranjos de cordas a ângulos cliché do rock alternativo e a beats desajustadas. A edição oficial de Extraordinary Machine é, ainda assim, um disco decente mas não pode deixar de considerar-se que fica muito aquém daquilo que Jon Brion urdira inicialmente. Nesta, como noutras edições, o assombro mercantil tolheu a arte. Para mal de Apple. E da Epic que, afinal, ao procurar um disco vendável, produziu um valente incentivo ao download ilegal da versão original.

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