Apreciação final: 8/10
Edição: Southern Records, Outubro 2005
Género: Metal Experimental/Doom Metal
Sítio Oficial: www.southern.net
Edição: Southern Records, Outubro 2005
Género: Metal Experimental/Doom Metal
Sítio Oficial: www.southern.net
O sol pôs-se ainda antes de nascer, o céu subsiste na negrura de uma longa noite que não se foi. Sente-se no ar o cheiro putrefacto do medo, dos sedimentos nas cavernas húmidas, dos dejectos de insectos disformes e devoradores de carne humana. O fôlego escapa-se na claustrofobia sufocante do vazio escuro. O chão é apenas a sombra desmedida de uma floresta negra, cansam-se os olhos na incrédula busca da ténue luz no horizonte. Escutam-se, ao longe, gritos arrepiantes de tormento e trazem consigo o silêncio cúmplice dos corvos malditos. As árvores negras dizem sarcasmos de morte e disfarçam sentenças em sorrisos cínicos; os copiosos raizeiros desprendem-se com vagar da terra, arrogam-se de serem pés e afoitam-se a intentar um passo, depois outro, ainda outro. As pernadas são agora braços e executam assustadores movimentos de equilíbrio, como se esta árvore, também aquela além, e as outras que nos miram pudessem olhar, tomassem subitamente consciência da cinemática de que sempre se acharam privadas até este instante. Perplexas, uma após a outra, as árvores de troncos e folhas negras libertam-se da terra, encaminham-se para nós, num compasso demorado e pesado. A cada passada hesitante, a terra treme e os monstros parecem maiores. Das bocas e cordas vocais imaginárias das aterradoras criaturas nascem sons penetrantes, pedaços de ruídos fragmentários que se desunem no ar e desenham um grotesco prenúncio de sangue. Elas são árvores-vampiros e, dominadas pelo feitiço de dezenas de noites, vêm roubar-nos o plasma. Têm o mesmo sonho, a utopia da juventude imortal da Condessa Bathory que, banhando-se no sangue de jovens adolescentes assassinadas, supunha preservar a mocidade. Não percebem a evidência da sua própria morte que, mesmo caminhando, a denúncia negra e podre da sua fisionomia torna irrefutável. E desaparecem, reduzem-se à pobre condição de árvore defunta; os membros devolvem-se, na mesma presteza com que se moveram, à morrediça resolução do tempo, apagando-lhes a burlesca memória de um dia terem andado como gente. Os corvos esvoaçam para longe, já lhes não cheira a iguaria. Volta a morte ao palco negro, o universo dos Sunn O))).
Black 1 é o corpo musical de um mundo assim. Guitarras pesarosas e labirintos sónicos inquietantes. O propósito essencial é a escola do doom metal ou o trejeito gótico, com uma extensa paleta de minúcias experimentalistas. Há qualquer coisa de horror nocturno, de um assombro que impele o auditor a esquadrinhar as raízes do medo abstracto, dos receios caprichosos sem destino. Num cenário de saturação deste tipo de sonoridades, os Sunn O))) descobriram a pedra filosofal que distingue a sua assinatura das demais e oferecem-nos o seu melhor trabalho. Um disco absolutamente indispensável, de proporções épicas e ritualistas e negrura perturbante e hipnótica. Porque assim são os Sunn O))). E porque o medo é um lugar estranho.
3 comentários:
Offpost: Natal não são só compras, não são só luzes a brilhar, não são jingles no ar nem correrias atrás de prendas nem sonhos fritos em óleo... Natal é estarmos juntos de quem amamos e recordarmos aqueles de quem sentimos a falta, com amizade e muito amor, e é pensarmos que queremos que todos à nossa volta sejam felizes, mesmo aqueles de quem não gostamos mesmo nada e enchermo-nos de alegria, saudade, tristeza e todas as emoções boas da vida.
Desejo-te amor, saúde e paz nesta Quadra e um Mega 2006!
Hugzz vindos da chaminé
Concordo inteiramente contigo se me disseres que é um disco denso e pesado. Mas, se estivermos com disposição para este tipo de sonoridades pode revelar-se uma experiência arrepiante de pura adrenalina.
Claro que, se te dá dores de cabeça, é melhor não insistires. Se mesmo assim fores um melómano teimoso, tenta dar-lhe uma segunda oportunidade num dia em que estejas um pouco menos "light" e pode ser que sejas surpreendido.
Abraço
Se mesmo dando uma segunda oportunidade manténs essa opinião, não vale a pena insistires. É que há discos que se vão entranhando aos poucos embora não pareça ser esse o caso em relação ao "Black One" para ti.
E com tanto disco bom por aí, quando um não nos cativa o melhor que há a fazer é "seguir em frente", não é? Até porque o gosto humano não tem discussão.
Abraço
Enviar um comentário