terça-feira, 1 de novembro de 2005

The Fiery Furnaces - Rehearsing My Choir

Apreciação final: 5/10
Edição: Rough Trade, Outubro 2005
Género: Indie Rock/Experimental/Spoken Word
Sítio Oficial: www.thefieryfurnaces.com








É suposto que uma reunião familiar redunde no reforço da empatia e dos vínculos pessoais dos membros de um clã, se se trata de uma família sem disfunções. Aparentemente é esse o caso dos Friedberger, afinal os irmãos Matthew e Eleanor andam a par, nestas coisas da música, há um punhado de anos. Pelo caminho, escreveram dois álbuns (e um EP) que delinearam um perfil musical inventivo e algo revivalista. Neste terceiro trabalho, os manos quiseram (ou assim parece...) construir um álbum conceptual, partindo precisamente da afinidade musical e da ascendência da avó, Olga Sarantos, antiga directora do côro de uma igreja ortodoxa grega, algures no Illinois. À senhora é reservado o ensejo de figurar entre as vocalizações deste Rehearsing My Choir - também tem honras de capa - e de partilhar com o ouvinte algumas memórias da Chicago dos anos 50, através do registo musical nada banal dos netos. E se a banalidade nunca esteve nos trabalhos anteriores dos Fiery Furnaces, que dizer deste terceiro álbum? O fundo musical é declaradamente mais experimental, não abdica dos inevitáveis picotados a piano e dos vultos desenhados a guitarra mas embrulha-os numa dimensão teatral, a vibrar entre a exuberância e o recato, em flutuações dispensadas de compromisso. Rehearsing My Choir é assim mesmo, um disco sem ajuste a vínculos, sem preconceitos e com a vitalidade própria de canções emancipadas. Serão mesmo canções? Neste trabalho, o discurso sobrepõe-se à melodia, como que se desobrigando dela com astúcia. As vozes de neta e avó fazem um jogo, são peões mensageiros que confundem o tempo, numa conversa sardónica (nem sempre simbiótica) entre passado e presente que se empoleira em alicerces musicais prolixos e quase cacofónicos, cortesia da produção versátil de Matthew.

Rehearsing My Choir é um álbum bizarro e é corrompido pelas suas incongruências: as breves ocasiões de esplendor musical são ofuscadas por um registo spoken word que, na voz andrógina e profunda de Sarantos, chega a tornar-se maçador e corrompe a performance de Eleanor. A dinâmica musical do disco é controversa, parecerá bem aos adeptos da originalidade e do abstraccionismo mas decepcionará os indefectíveis dos The Fiery Furnaces que, percebendo em Rehearsing My Choir a espontaneidade e o virtuosismo de outros títulos, não descobrirão neste disco a insinuante tentação das canções da dupla Friedberger. Porque Rehearsing My Choir assume a perversão e o arrojo experimental de as não ter. Aqui, a proposta musical é como o ensaio tosco de uma trupe de teatro de rua, de trovadores de histórias musicadas com o secreto sonho de um dia verem a luz da Broadway. E, trazendo à memória outros álbuns, não deve ser isso que os The Fiery Furnaces procuram...

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