Lançada recentemente pela etiqueta lisboeta Thisco, esta edição comporta a banda sonora da peça Ladrões do Tempo, apresentada no ano passado pela companhia sineense Teatro do Mar. As peças musicais são da autoria do experimentalista L'Ego e integraram as exibições de teatro de rua daquele espectáculo multimédia. Abrangendo uma diversidade de estilos, Ladrões do Tempo é, antes de mais, um edifício sonoro feito de colagens e manipulações. A substância musical de L'Ego é neste trabalho, como noutros, um tecido electrónico obscuro e denso, uma fusão sinérgica de classes sónicas, um desafio de timbres manobrados como bonifrates sob o jugo de um fio imperceptível. A outra ponta desse cordel invisível está nas mãos (e na mente) de L'Ego, versátil operário de sintetizadores e manobras de sampling, que molda uma massa ecléctica feita de sons desconexos, pequenos fragmentos de jazz, de música tribal, de house, também do som inato de uma guitarra, de um piano ou de um sopro.
As composições são desembaraçadas, sugerem-se nos caprichos do acaso, numa toada quase improvisada, qual peça de artesanato castiço e sem impurezas. A fórmula de crescendo das faixas, sempre rumo a um clímax provável (nem sempre materializado...), aceita as latitudes do lounge e torna a audição de Ladrões do Tempo uma sugestão acertada para uma noite no café-bar. Num disco sobre salteadores, L'Ego dá forma corpórea, às escondidas, a um furto dos armários do tempo. E se os proprietários legítimos destes sons (Autechre, Coil, Dany Siciliano, Hector Zazou, La Fura dels Baus, Robert Fripp, To Rococo Rot, entre outros) não apresentam queixa, então beneficiemos com o produto do roubo. Deixemos à quadrilha destes Ladrões do Tempo o ensejo de nos surripiarem o precioso tempo, escutemos o disco e não esqueçamos: o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem...
Procure na grafonola as faixas "Metropolis" e "Aberto 24 Horas"
Sem comentários:
Enviar um comentário