terça-feira, 22 de novembro de 2005

Broken Social Scene

Apreciação final: 8/10
Edição: Arts & Crafts, Outubro 2005
Género: Indie Pop/Experimental
Sítio Oficial: www.arts-crafts.ca








Quando cerca de uma quinzena de pessoas concentram noções musicais num objecto comum é de esperar que o produto dessa experiência conjunta seja uma síntese versátil. Um disco feito nesses moldes reclama também uma dinâmica de grupo bem oleada e a reflectida alocação das diferentes perspectivas de criação. O projecto Broken Social Scene é uma dessas trupes musicais (neste momento tem dezassete elementos) e nasceu da amizade entre Kevin Drew e Brendan Canning e foi-se alargando a músicos convidados ilustres como Evan Cranley (dos Stars), Emily Haines (dos Metric) ou Leslie Feist. As composições de tão ambicioso ensemble são férteis em imprevistos e fomentam, num estilo lustroso e desembaraçado, a expansão de ideias, graças a uma orgânica instrumental sem vácuo e a uma miríade de vozes desiguais. Depois, a desinibição das faixas manifesta-se nas excentricidades pop e no senso melódico de um trabalho que alcança o raro fito de juntar diversos talentos individuais num todo sinérgico. Da miscelânea faz-se harmonia. Do caos nasce magia.

O apontamento dominante de Broken Social Scene é a surpreendente coesão das composições, em torno de uma abstracção pop profundamente cativante e que, embora pareça menos afoita em determinados momentos do disco, remete o auditor para uma grandeza orquestral incomum, mais própria para uma jam session, feita de colagens experimentais, de batidas ora trôpegas ora diligentes, de enredos de guitarra, de reviravoltas e ripostas frenéticas. Broken Social Scene é um álbum de outra dimensão, um exercício exploratório sem alavanca ou travão, um impossível delírio criativo, uma paleta de cores garridas e detalhadas. Ao ouvi-lo, vez após vez, apetece desdobrar-lhe as nuances e tirar o chapéu a uma banda (ou orquestra?) que vale por uma dúzia. Uma constelação brilha mais do que uma estrela só...

O terceiro longa-duração destes canadianos é uma colecção de impulsos musicais cheios de méritos, ainda que a algumas das faixas falte o suculento magnetismo de "Ibi Dreams of Pavement", "Swimmers" (com a voz de Feist) ou "Superconnected", exemplos do melhor indie pop deste ano. Por isso, Broken Social Scene não será o disco magno de 2005, mas estará certamente presente nos best of de muitos melómanos por esse mundo fora. Imperdível.

2 comentários:

O Puto disse...

Concordo inteiramente. Parecem uma banda de jazz mas que interpreta indie-rock. Delicioso!

Sunday Morning disse...

ultimamente tenho ouvido este álbum e estou gostar bastante