O crescimento mediático do colectivo islandês Sigur Rós é imagem representativa das duas faces de um percurso fiel a uma estética singular (e, por isso, marginal aos discursos dominantes). Se, por um lado, a recorrência (e consequente depuração) de uma linguagem musical própria foi factor de angariação de fãs aderentes a esse microcosmo estético particular (forjado no lado "ambiental" da melancolia), assim se fundando a identidade inconfundível da banda, não é menos verdade que, depois de um quarteto de álbuns estruturalmente muito semelhantes, o risco de cristalização do conceito estaria presente. Antecipando a proximidade da estagnação, os Sigur Rós perceberam a necessidade de reinventar-se e da oportunidade de somar outras valências à fórmula musical que inventaram. Hvarf-Heim, prenda acústica do Natal do ano transacto, constituíra primeiro momento do fôlego revisor que, tranquilamente, trouxe o quarteto nórdico ao exercício de transição que é Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust. Não se trata de fazer um motim contra o passado, tampouco de dispensar os ensinamentos do sucesso armazenado, mas há no quinto opus de estúdio dos Sigur Rós uma vontade de atalhar por outros caminhos. A esse desejo de romper o saudável hermetismo de discos anteriores, não são estranhas a produção de Flood (dos Nine Inch Nails) que, sem beliscar a toada minimalista e ambiental da banda, lhe confere expansão, e a escrita mais transgressora da banda - os corolários moram na pseudo-psicadélica na "Gobbledigook" (foi você que pediu Arcade Fire?), na luminosa "Inní mér syngur vitleysingur", ou na primeira aventura em língua inglesa ("All Alright"). Em tudo o resto, a substância maior é aquele imo de dolência deprimida que os Sigur Rós musicam como ninguém e que faz deles verdadeiramente especiais. E música como a que se escuta no impronunciável Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust (a tradução livre seria: "com um zumbido nos ouvidos, tocamos sem fim") não só guarda a essência quase épica do universo Sigur Rós, como lhe abre o espírito a outras luzes. A lágrima escorre sobre um sorriso.
terça-feira, 24 de junho de 2008
Sigur Rós - Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust
O crescimento mediático do colectivo islandês Sigur Rós é imagem representativa das duas faces de um percurso fiel a uma estética singular (e, por isso, marginal aos discursos dominantes). Se, por um lado, a recorrência (e consequente depuração) de uma linguagem musical própria foi factor de angariação de fãs aderentes a esse microcosmo estético particular (forjado no lado "ambiental" da melancolia), assim se fundando a identidade inconfundível da banda, não é menos verdade que, depois de um quarteto de álbuns estruturalmente muito semelhantes, o risco de cristalização do conceito estaria presente. Antecipando a proximidade da estagnação, os Sigur Rós perceberam a necessidade de reinventar-se e da oportunidade de somar outras valências à fórmula musical que inventaram. Hvarf-Heim, prenda acústica do Natal do ano transacto, constituíra primeiro momento do fôlego revisor que, tranquilamente, trouxe o quarteto nórdico ao exercício de transição que é Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust. Não se trata de fazer um motim contra o passado, tampouco de dispensar os ensinamentos do sucesso armazenado, mas há no quinto opus de estúdio dos Sigur Rós uma vontade de atalhar por outros caminhos. A esse desejo de romper o saudável hermetismo de discos anteriores, não são estranhas a produção de Flood (dos Nine Inch Nails) que, sem beliscar a toada minimalista e ambiental da banda, lhe confere expansão, e a escrita mais transgressora da banda - os corolários moram na pseudo-psicadélica na "Gobbledigook" (foi você que pediu Arcade Fire?), na luminosa "Inní mér syngur vitleysingur", ou na primeira aventura em língua inglesa ("All Alright"). Em tudo o resto, a substância maior é aquele imo de dolência deprimida que os Sigur Rós musicam como ninguém e que faz deles verdadeiramente especiais. E música como a que se escuta no impronunciável Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust (a tradução livre seria: "com um zumbido nos ouvidos, tocamos sem fim") não só guarda a essência quase épica do universo Sigur Rós, como lhe abre o espírito a outras luzes. A lágrima escorre sobre um sorriso.
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