segunda-feira, 9 de junho de 2008

Sparks - Exotic Creatures of the Deep

7/10
Lil'Beethoven
2008
www.allsparks.com



Embora só tenham conhecido verdadeira atenção mediática há seis anos, com o superlativo exercício de pop sinfónica que foi Lil' Beethoven, a verdade é que os californianos Sparks somam já mais de três décadas "esquecidas" de intensa actividade discográfica. A distracção dos públicos que deixou numa injusta periferia uma banda com uma discografia tão consistente e consequente quanto a dos Sparks, é apenas desculpável pelo facto de os irmãos Mael, Ron e Russell, terem uma das mais originais e mutantes linguagens da música pop contemporânea, coisa identitária de um tal dinamismo e volatilidade que os distancia de uma definição estética que fidelize séquitos. É, de resto, essa inesgotável capacidade da banda se reinventar - que, em certos momentos do percurso, se pode confundir com eruditismo - e, sobretudo, a imunidade aos códigos mais ligeiros e condescendentes da pop de grande escala, a causa para o distanciamento entre públicos e a música dos Mael e para, ao mesmo tempo, a sua sacralização enquanto objecto de culto de um nicho estrito de melómanos.

Não espanta, portanto, que ao vigésimo primeiro registo eles continuem a ser uma incógnita para as massas e a sua música uma causa com poucos aderentes. Exotic Creatures of the Deep não mudará essa ordem de coisas, pois recalca os argumentos técnicos mais recentes da discografia dos Sparks, mormente a visão "classicista" da canção pop - numa curiosa convergência entre tecidos electrónicos e condimentos próprios da música de câmara (o piano em staccato, por exemplo) - um certo minimalismo sinfónico e vocais em coro. Em todo o caso, o novo opus mostra maior diversidade instrumental do que o antecessor, ao juntar amiúde a electricidade das guitarras à mistura de opereta. O resto é, como é timbre dos Sparks, a pura ironia de erguer genuínos monumentos de musicalidade, partindo de ideias que, por vezes, chegam a roçar o absurdo. O dislate excêntrico é, para os manos Mael, uma matéria inspiradora, o pilar humorado de peças maduras e construídas com inteligência (também com o suporte lírico mais certo), de genuíno barroco modernista, de afectação "intelectualista", é certo, mas pejadas de motivos de interesse. Exotic Creatures of the Deep é, portanto, um puro Sparks em tudo, mesmo nos desvios, nas bizarrias, nos motejos e (até) nas incongruências de estilo de que, afinal, eles fizeram imagem de marca.

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