quarta-feira, 4 de junho de 2008

Man Man - Rabbit Habits




Não parece haver uma explicação aceitável para o facto de o quinteto Man Man ainda se manter na obscuridade da cena musical americana, sendo uma das suas mais inventivas, entusiasmantes e bizarras trupes. Para Honus Honus, Sergi Sogay, Critter Crat, Pow Pow e Chang Wang (há no universo conhecido melhor combinação de pseudónimos que esta?) a música é um inacreditável manifesto hedonista, sem quaisquer preconceitos formais e técnicos e, sobretudo, sem receio de transgredir descaradamente os postulados estéticos dos cânones. Aliás, a relação dos Man Man com a prudência ou o formalismo é manifestamente antipodal, ou não representassem eles uma das mais fidedignas acepções do psicadelismo, tão bem ilustrado na imaginativa prosápia com que se situam no espectro musical, algures entre o impacto cénico de um hipotético vaudeville da era viking e as andanças de um jazz cigano tresloucado. E a música deles, tão absurda e fantasista quanto esses rótulos, é pejada de instrumentos (pianos, saxofones, trompetes, clarinetes, flautas, baixos Fender, xilofones, marimbas, percussões) e delírios circenses e especula com as retorsões "clássicas" dos Captain Beefheart - talvez a referência mais pacífica - ou dos momentos menos convencionais dos mestres Tom Waits ou Frank Zappa.

Há dois anos, o inusitado (e precioso segundo álbum) Six Demon Bag (2006) subira os argumentos de musicalidade da banda a níveis quase surreais, ao conciliar causas de arroubamento rock, transcrições mais ou menos rabiscadas da festividade balcânica, improváveis charamelas de metais, entusiasmos vanguardistas pelo jazz psicadélico e, claro, os mais diversos pigmentos experimentalistas. O quadro não é menos colorido neste Rabbit Habits mas, em contraponto da descentração imoderada e da tensão do antecessor, o novo opus revela uma escrita mais fluida e focada na canção. O próprio Honus Honus acautelou, em entrevista recente e anterior à edição, a reacção dos fãs para aquilo a que chamou o "disco mais pop" do catálogo da banda, sublinhando então a identidade menos desenfreada que poderiam encontrar no álbum. Mas, depois de o escutar atentamente, a apreensão que sobreveio dessa entrevista, afinal, não encontra correspondência na música de Rabbit Habits. Mesmo com canções mais "organizadas" e racionais (dois adjectivos perigosos para a química dos Man Man), a verdade é que continua a haver lugar para o desvario, a paródia e inconformismo e isso é sinónimo de que a charanga de Honus Honus é tão brilhante como antes. Mesmo reduzindo a dose de alcalóides.

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