Embora o contributo de Pharrell Williams e Chad Hugo para a notória revivificação do universo hip hop e a consequente caminhada para o mainstream, a partir da segunda metade da década de noventa, não seja facilmente quantificável, certamente a história virá a fazer justiça ao par de produtores americanos enquanto forças motrizes da primeira linha desse movimento. Ao emprestar originalmente alguma excentricidade estética às austeras premissas estruturais do cânon hip hop, então somando-lhe o colorido exótico de sons espaciais e futuristas e a irreverência de percussões novas, o par Williams/Hugo ergueu, sob a alcunha The Neptunes, um conjunto de novos postulados texturais para o hip hop. A notoriedade do duo nesse orbe foi crescendo paulatinamente, à medida que os Neptunes produziram gente com o peso simbólico de N.O.R.E. (ex-Noreaga), Kelis, Ol'Dirty Bastard, Jay-Z, Snoop Dogg, Mystikal, P. Diddy, Busta Rhymes ou Usher. A latente consagração do "som Neptunes" criou motivos para a curiosidade do mundo melómano face à possibilidade da dupla saltar para a frente da mesa de misturas e, mais do que dar a conhecer uma química de arrumação de sons original, mostrar composições próprias. Com Shay Haley, Williams e Hugo formariam os N.E.R.D., aí encontrando o espaço criativo para, não só aproveitar as inovações técnicas entretanto consagradas, mas levá-las a outros níveis de emancipação e ambição, nomeadamente à conjugação de um código sonoro a apalpar convergências entre o hip hop, o funk, a música soul e o rock.
E depois de um primeiro disco algo discreto (In Search Of..., de 2001) e de um sucessor mais consistente (Fly Or Die, de 2003), e do hiato para aventuras a solo de Pharrel Williams e algumas colaborações e produções pontuais em trabalhos de terceiros, os três voltam a juntar-se para recuperar o fôlego da experiência e retomar o caminho sugerido pelo par de registos anteriores. Uma vez mais, a meta chama-se canção pop e as luzes e cores de inspiração misturam influências de origens várias, como é timbre dos N.E.R.D. e das linguagens que subscrevem. A nota dominante, além do eclectismo de Seeing Sounds, é um irrepreensível equilíbrio entre as anotações verdadeiramente retro que se espalham pelo disco e o complemento vanguardista que brota dos instrumentais. Todavia, ao contrário da inventividade que habitualmente sai das mentes de Williams, Hugo e Haley, as canções ficam longe do triunfalismo da produção de cátedra e resvalam, com excepções pontuais ("Everyone Nose", "Spaz" e "Yeah You" são os pontos altos), para uma mediania que embacia os méritos dos N.E.R.D..
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