terça-feira, 21 de dezembro de 2004

Problemas técnicos


Alguns problemas de ordem técnica vão impedir-me de colocar novos posts nos próximos dias. Por esse motivo, aqui deixo as minhas desculpas e a promessa de regressar num curto espaço de tempo, o mais tardar no início do novo ano.

Ainda assim, para os utilizadores do apARTES não ficarem "de mãos a abanar" deixo aqui algumas sugestões de discos para os próximos dias:

- Carlos Libedinski "Narcotango" (Tango electrónico a la Gotan Project);
- Cult Of Luna "Salvation" (Metal Alternativo/Experimental);
- V/A "Amália Revisited" (Outra visão do fado tradicional);
- Marlango;
- Sam Roberts "We Were Born In A Flame";
- Tuxedomoon "Cabin In The Sky";
- Rolling Stones "Live Licks";
- Vanessa Mae "Choreography";
- John Frusciante "Shadows Collide With People";
- Keith Jarrett "The Out-Towners";
- Nancy Sinatra;
- Ney Matogrosso, Pedro Luís e a Parede "Vagabundo".

Obrigado.
Feliz Natal e Bom Ano de 2005.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

Matozoo - Funk Matarroês

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2004
Género: Hip-Hop



A nota de imprensa de lançamento deste registo rezava assim (em maiúsculas estão os títulos das faixas deste disco):

"FUNK MATARROÊS, é o título que melhor descreve o estado musical das nossas ALMAS. Numa era em que é mais fácil gritar A CULPA NÃO É MINHA, refutam-se responsabilidades em vez de preparar o futuro PARA A SEMENTE. Não acreditamos em revoluções utópicas, por isso gritamos CANCELEM O APOCALIPSE...porque Nóides fazem música colados a uma FÓRMULA. A verdadeira revolução acontecerá, apenas, quando forem dados 4 TIROS NA INDÚSTRIA e O REGRESSO DO APÓSTOLO for eliminado. Assistiremos à INVASÃO DOS DRÓIDES MATARROÊSES, em cativeiro desde que soaram os TROMPETES DE 95. Caso a mudança não ocorra em B MIL E C com este FUNK MATARROÊS, continuaremos “mais ao lado”, a fazer soar TROMPETES EM 2014. Até lá, continuaremos os KOMBATES KOM MORTAIS e o QUE FOI, FOI e o que será, será!"

É preciso dizer mais? A isto junta-se um espírito assumidamente rebelde, um discurso perspicaz e directo (às vezes demais!), num disco do mais duro hip-hop nacional. Se Funk Matarroês não deu os tais quatro tiros, pelo menos fez uso da melhor arma do rap: a independência. A etiqueta Matarroa (de Matosinhos) apoia os rapazes e eles afirmam-se. Atenção aos Matozoo...eles andam aí!

Guided By Voices - Half Smiles Of The Decomposed

Apreciação final: 6/10
Edição: Agosto 2004
Género: Pop-Rock Alternativo/Indie



Os americanos Guide By Voices conquistaram o seu espaço no underground graças a um som lúcido, apaixonado e franco. Este registo é mais psíquico, portanto mais denso e, talvez, menos imediato. Também por isso, afasta-se um pouco do padrão costumeiro do grupo, compondo um alinhamento puramente indie, com fogachos de pop, em esquissos sonoros aprazíveis.

A versatilidade lo-fi dos Guided By Voices é aqui retesada ao extremo e responde, periclitante, num portento de energia centrífuga e, por isso, desconcertada e dividida. Não nos iludamos, Half Smiles Of The Decomposed é um bom disco, mas mostra faces ocultas dos Guided By Voices e, com elas, vem a prova de que nem sempre a aventura é o caminho certo, especialmente se o passado pesa nas costas. Ainda assim, vale a pena escutar este registo. Se nenhum motivo sobrar, seja porque foi anunciado como o último dos Guided By Voices.

Estradasphere - Quadropus

Apreciação final: 5/10
Edição: Outubro 2003
Género: Rock Experimental/Étnica/Jazz-Rock/Fusão



Estradasphere é um curioso projecto de fusão entre a étnica, o jazz e o experimentalismo. A música é complexa, integra vocalizações soltas, instrumentalizações de acalmias caóticas, percussões electrónicas e engenho criativo. As semelhanças com os Secret Chiefs 3, mesmo com os Mr. Bungle, piscam-nos o olho, ironicamente, a cada faixa. Mas Quadropus não se esgota aí.

A música é tímidamente sumptuosa, como fundo são servidos arranjos de sopros estimulantes e que balanceiam os restantes elementos das composições. Apesar do bom gosto e da honestidade da proposta, parece faltar a este registo a espessura de outras ofertas do mesmo género. As músicas são vãs, algo inconsistentes e, mais do que isso, são demasiado superficiais para serem levadas a sério. Definitivamente, Quadropus parece bem, mas não conquista.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

Kaada & Patton - Romances

Apreciação final: 7/10
Edição: Novembro 2004
Género: Rock Experimental/Pós-Rock/Electrónica Experimental



Quando se junta a mente assombrada de Mike Patton e a sedução onírica de John Kaada o desfecho é um disco que assume proporções quase-cinematográficas, algures entre o assustoso e o tentador. As músicas são melódicas, pousadas em estruturas elásticas, desprendidas de convencionalismos escusados e personificam a luxuosa míriade de influências trazidas pelo norueguês Kaada. As vocalizações são extravagantes, as mais das vezes, e timoratas, noutros momentos do registo. Se ainda dúvidas houvesse, o engenho vocal de Mike Patton é aqui estirado ao extremo, dos agudos pungentes aos graves guturais, conferindo a Romances um espírito invulgar, um misto inesperado de sentimentalismos fervorosos e medos frios.

Romances é verdadeiramente apelativo, não só para os fãs de Kaada ou Patton, também para quem busca uma macabra banda sonora do amor.

90 Day Men - Panda Park

Apreciação final: 7/10
Edição: Fevereiro 2004
Género: Rock Indie/Alternativo



Os 90 Day Men são complexos, psicadélicos, progressivos e new wave. Ainda assim, estes rótulos são redutores, a sua essência vai bastante além de qualquer classificação. Panda Park é o registo mais recente. Que dizer sobre este trabalho único? É inegável que se trata de um disco luzidio, de uma banda à procura da afirmação, em obstinada evolução. Sete faixas vincadamente insanas, em devaneio alucinado de esquisitices, paranóias e aberrações. Há aqui influências do punk, do rock progressivo e doses incomensuráveis de engenho. Além disso, a fusão entre a electrónica retumbante e a serenidade acústica é de bom nível, conjugando pertinentemente o talento dos músicos.

Panda Park é um disco de surpresas anfetamínicas, de desvarios coloridos e que não deixa de ser fracturante, mesmerizador e, acima de tudo, original. Grande álbum.

American Music Club - Love Songs For Patriots

Apreciação final: 6/10
Edição: Outubro 2004
Género: Pop-Rock Alternativo/Indie/Folk



Os californianos American Music Club, liderados por Mark Eitzel, gravaram sete álbuns, todos aclamados pela crítica, e cativaram um razoável número de seguidores. O projecto foi desmantelado em 1995, tendo retomado a sua actividade em 2003. Dessa inesperada reunião culminou nasceu Love Songs For Patriots.

Se os álbuns a solo de Eitzel eram omissos, neste registo há uma integridade superior, o ensemble de músicos dos American Music Club dá outra expressão às criações de Eitzel, enriquecendo-lhes a propensão sardónica, a melancolia e o slowcore.

Este Love Songs For Patriots não será o melhor trabalho dos AMC, nem o pior, mas vem provar que a fórmula do grupo é ainda capaz de propôr um disco suficientemente interessante para merecer uma audição. Ultrapassado o hiato de dez anos, resta-nos esperar que este não seja o canto do cisne e que, de onde brotou Love Songs For Patriots, haja sementes para algo mais.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Introdução do posto de escuta

No quadro das renovações e melhoramentos de que o espaço apARTES tem sido alvo, anuncio mais uma novidade: a partir de hoje, os utilizadores deste blog podem desfrutar de amostras dos discos em análise, o que permite uma identificação mais apurada das propostas musicais, melhorando a qualidade do serviço prestado pelo apARTES.

Como sempre, o meu mail está disponível para qualquer crítica e/ou sugestão.

O meu agradecimento a todos os que visitam o apARTES.

Dresden Dolls - The Dresden Dolls

Apreciação final: 8/10
Edição: Abril 2004
Género: Pop-Rock Alternativo/Punk Revivalista/Cabaret



Natural de Boston, o duo Dresden Dolls assume o revivalismo do punk, mistura-o com o glamour exibicionista do cabaret, produzindo uma música que vence os ortodoxismo mais resistentes. Amanda Palmer (voz e piano) e Brian Viglione (bateria) juntaram-se em 2001 e rapidamente se tornaram um projecto interessante no seio do pop-rock alternativo, rasgando o rótulo da conotação riot girl e acolhendo as influências da música de cabaret da Alemanha dos anos 30. A música resulta inteligente, fundindo culturas e experiências musicais variadas e revelando influências muito diversas, que vão de Marlene Dietrich e Kurt Weill a Pj Harvey ou Tori Amos, e ainda, a espaços, Courtney Love. A combinação de géneros parece improvável mas acaba por se traduzir num título coerente, com extremo bom gosto, composições equilibradas que não soam forçadas, antes despontam com a naturalidade que lhes advém da criatividade.

The Dresden Dolls é um registo profundamente recomendável a todos os que procuram a frescura e que apreciam a música que se orgulha espaventosamente de ser aquilo que é: autêntica.

Bizarra Locomotiva - Ódio

Apreciação final: 7/10
Edição: Novembro 2004
Género: Metal Industrial/Alternativo



O projecto Bizarra Locomotiva conta já alguns anos no underground industrial nacional, talvez ficando aquém do crédito merecido. Estão de volta com Ódio. E que dizer do novo trabalho? O som corrosivo mantém-se, as guitarras distorcidas, a voz gutural, a electrónica aqui e ali e muito, mesmo muito, talento. A juntar à música, os cenários sombrios, quase surreais, encantadoramente negros das letras. O senão: o disco não acrescenta nada à carreira da Locomotiva; é certo que tem algumas boas canções, a fórmula está longe do esgotamento, mas o grupo não inova, continua preso a si mesmo. Coerência ou impotência? Deixe-se ao critério do ouvinte. Uma verdade é indesmentível quando se ouve Ódio: os Bizarra Locomotiva são um dos mais interessantes projectos nacionais de metal industrial e merecem chegar a outros públicos. Talvez o lançamento do álbum com o jornal Blitz possa dar uma mãozinha.

Quem não conhece os Bizarra Locomotiva pode pensar numa lunática fusão entre os Mão Morta e os Marilyn Manson (alguns temas têm partes quase recalcadas - "Moscas" não é um quase-plágio de "Anti-Christ Superstar"?). Os conhecedores...bom, esses já devem ter Ódio que chegue no leitor de cd's. Esperemos é que a Locomotiva não siga a filosofia da faixa "O Frio", onde a letra fala de uma "evolução para a...morte".

Isis - Panopticon

Apreciação final: 8/10
Edição: Outubro 2004
Género: Metal Alternativo/Grindcore



O projecto Isis encerra uma concepção de música única, intrinsecamente densa, marcada pelo espiritualismo e pautada por ambientes pesados, de atmosfera complexa, agressiva e crua. Este quinteto de Boston abraça a composição com algum surrealismo, expresso no recurso insistente ao feedback, a acordes intensos, a uma dinâmica de contrastes intensos entre o silêncio e o oposto, vocalizações elásticas, as mais das vezes em gritos angustiantes, confundidos na distorção das guitarras. Mas os Isis são ainda mais do que isso, vão muito além do simples heavy metal. São também os artesãos de um som experimental, que expõe as vísceras da raiva, em jeito ameaçador, simultaneamente reflexivo, partindo das guitarras e construíndo canções sem estrutura, aparentemente caóticas, mas com um fio condutor puro, abstracto por convicção, semeado algures entre as distorções e os gritos.

Os Isis são uma espécie de Tool-meets-Pink Floyd do heavy metal, estão no meio de uma transformação evolutiva que ainda não atingiu o máximo, mas dele se aproxima a cada registo. Panopticon é "apenas" a metamorfose mais recente.

A Girl Called Eddy

Apreciação final: 7/10
Edição: Agosto 2004
Género: Pop-Rock Alternativo/Cantautor



Lembram-se de Rosie Thomas, Beth Orton ou Aimee Mann? O projecto A Girl Called Eddy, cuja mentora é Erin Moran, segue essas pistas valiosas. Três anos depois do extraordinário EP Tears All Over Town, chega-nos o primeiro longa duração de Moran. Produzido por Richard Hawley e Collin Elliot, o registo é uma confissão melancólica e íntima, serenamente pautada por uma produção algo sofisticada. A composição não poderia deixar de ser influenciada por um certo romantismo, embalado na interjeição permanente de secções de cordas que enriquecem o conteúdo musical.

A alma das canções é praticamente tangível, não é ensimesmada, redime-se das
fraquezas e expõe-se com uma crueza tocante e uma sensibilidade arrebatadora. A natureza maioritariamente acústica do disco contribui para o aproximar mais do ouvinte e, sem ser meloso, impele-o a comover-se. A proposta é irrecusável, o coração de Moran despe-se a cada palavra e acorde, num registo de sinceridade assombrosa. Moran declara-se a nós, ama-nos pela música. Vencidos pela sedução, resta-nos ouvir A Girl Called Eddy durante muito tempo.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2004

Humanos

Apreciação final: 8/10
Edição: Dezembro 2004
Género: Pop-Rock



O legado de António Variações faz parte do mais valioso património da música portuguesa. As suas canções ditaram novas regras no panorama artístico nacional, rompendo barreiras de letargia e trazendo uma renovada frescura à pop nacional. O projecto Humanos, com as vozes de Manuela Azevedo, David Fonseca e Camané, recupera parte dessa herança, com a responsabilidade acrescida que decorre do facto de os temas serem inéditos, baseados em gravações domésticas do malogrado cantor, entregues à Valentim de Carvalho pela sua irmã, há cerca de dez anos.

O resto é puro Variações: músicas naif e algo excêntricas, letras irónicas e humoradas. O corpo de Humanos é outro, a voz também, a alma é a de António. Tudo soa a ele, e soar a Variações é abeirar-se do genial relaxamento de fazer-se o que se quer, sem leis e imposições, apenas no livre gozo da expressão musical. E Variações fazia-o como ninguém. Os Humanos seguem-lhe as pisadas, abraçam as músicas, não as desvirtuam e sobressai o inevitável espírito de António. Deixemos a modernidade da sua (re)aparição invadir-nos. E apreciemos o seu talento inconfundível através dos Humanos.

Na segunda faixa, a letra de Variações profetiza: "vou viver, até quando eu não sei, (...) quero é viver". Os Humanos mostram-nos que Variações desapareceu, mas jamais morrerá. Um grande disco.

The Incredibles - Os Super Heróis

Apreciação final: 6/10
Edição: 2004
Género: Animação


The Incredibles - Os Super Heróis é a nova proposta dos estúdios Pixxar. O enredo é centrado numa família de super-heróis forçada a viver no anonimato, depois de uma série de processos judiciais movidos contra si. Mr. Incredible, agora com a identidade de Bob Parr (quem se lembrou de transformar o nome em Beto Pêra na tradução legendada?), vive com a esposa Helen e os seus três filhos. A nostalgia do heroísmo leva Bob a deixar o emprego frustrante numa seguradora e a aceitar uma misteriosa proposta para voltar ao papel de herói. A partir daí, a super-família vai ter de recorrer aos poderes especiais reprimidos para voltar a salvar o mundo.

The Incredibles - Os Super Heróis eleva o cinema de animação a um nível técnico não atingido antes, com grafismo soberbos e pormenores visuais perfeitos - o detalhe dos cabelos das personagens e dos cenários é notável. Contudo, se tecnicamente o filme é o melhor do seu género, já no argumento e na dinâmica do enredo fica aquém desse estatuto, parecendo especialmente dirigido aos públicos mais jovens e menos a outras camadas de espectadores. Ainda assim, é um razoável convite ao entretenimento.

Kimmo Pohjonen - Kluster

Apreciação final: 7/10
Edição: Junho 2002
Género: Étnica/Acordeão/Electrónica



Kimmo Pohjonen é hoje um dos mais afamados embaixadores da música tradicional da Finlândia, trazendo uma sensibilidade moderna ao característico som do acordeão. Neste registo, cujo espectáculo passou recentemente pelo nosso país, o músico associa-se ao guru finlandês do sampling, Samuli Kosminen. Ambos são conhecidos pelo vanguardismo e a parceria leva o som do acordeão a terrenos bravios. O conceito é simples: integração do acordeão com modernas percussões e elementos electrónicos, na concepção de uma música multidimensional e inovadora, pimentada por vocalizações disperas, sem rumo e obscuras.

A experiência de Kluster é futurista, funde tradição e improviso, aceita o contraste com ponderação e surpreende mesmo os mais vanguardistas. Não há lugar para a pasmaceira da cómoda composição corriqueira, tudo é minuciosamente pesado, em ambientes coloridos, feitos de visões caleidoscópicas e esparsas frases melódicas. Kluster abre novos caminhos, arrebata pela surpresa viciante e cativa irremediavelmente. Para manter por muito tempo no leitor de cd's.

Jesse Malin - The Heat

Apreciação final: 6/10
Edição: Junho 2004
Género: Pop-Rock Alternativo/Cantautor



Jesse Malin nasceu para a música como vocalista dos D Generation, projecto a que esteve associado durante oito anos. O registo dessa banda pairava entre o glam-rock e o punk foleiro, ainda que com alguma substância musical. Esse substrato é mais visível nos títulos a solo do nova-iorquino Jesse Malin. The Heat é a nova proposta do músico, depois das promessas suscitadas com The Fine Art of Self Destruction, álbum que havia sido produzido por Ryan Adams.

Este trabalho é um registo honesto, de coração aberto, muito a la Neil Young, contando histórias de amores perdidos e oportunidades esquecidas. Todavia, o nível da composição fica aquém do seu anterior trabalho, destacando-se uma ou outra faixa, com uma formatação cada vez mais baladeira e tipicamente americana. Não se pode dizer que The Heat seja um fiasco, afinal é apenas o segundo disco de Malin, mas não se evita algum desapontamento face às expectativas criadas com o primeiro registo.

Wovenhand - Consider The Birds

Apreciação final: 6/10
Edição: Novembro 2004
Género: Pós-Rock/Folk Experimental/Country Alternativo



O enigmático líder dos extintos 16 Horsepower, David Eugene Edwards, começou a gravar sob a designação Woven Hand (neste disco grafado Wovenhand) em 2001. Os fãs dos 16 Horsepower reconhecem instantaneamente a mesma matriz sonora nos trabalhos de Woven Hand: gospel aguçado, folk assombrado e tons mordazes.

Em Consider The Birds, Edwards assume a quase totalidade das instrumentalizações, num tomo de canções sem pretensões, marcadas por dissonâncias intencionais de uma voz forte, em tom confessional de mágoas expressivas, de almas refulgentes e de auras de humanismo.

O registo não será o seu mais brilhante trabalho, mas é um disco reflexivo e que traduz a sensibilidade artística de Edwards.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

apARTES renovado!


Os frequentadores habituais do apARTES já terão percebido que o espaço mereceu uma reformulação gráfica significativa. É minha intenção que as alterações tornem o apARTES mais apelativo, aproximando-o das necessidades dos cibernautas que buscam informação sobre música e outras artes. Nesse intuito, algumas mudanças poderão ainda ser introduzidas nos próximos dias.

Aproveito a oportunidade para agradecer a todos os que passaram pelo apARTES desde a sua inauguração e manifestar a esperança de que este blog continue a responder às exigências dos seus utilizadores.

Obrigado por tudo.
Votos de uma feliz época natalícia.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

The Gift - AM/FM

Apreciação final: 7/10
Edição: Novembro 2004
Género: Pop Alternativa/Electro-Pop



Definido pelos elementos da banda como o disco mais ambicioso da sua curta existência, AM/FM apresenta-se no formato duplo, com dezasseis temas distribuídos por dois CD's.

Que dizer sobre este trabalho dos The Gift? O primeiro disco, intitulado Am apresenta um som diferente de Film, mais experimental, com um conteúdo electrónico sólido, numa onda de reinvenção dos conceitos sonoros do grupo. É certo que estas faixas são menos consensuais, mas encerram em si mesmas um potencial criativo superior aos anteriores trabalhos da banda e sugerem pistas para novos trilhos de êxito no futuro. AM aprova definitivamente os The Gift como um seguro projecto na área de electrónica-experimental nacional.

FM é o segundo disco. A sonoridade é mais pop do que em AM. Mantém-se o tom electrónico do registo, mas os refrões são mais orelhudos, como em "Driving You Slow" e "11.33", sem nunca se deixarem seduzir pelo mainstream descabido.

AM/FM é o trabalho mais ambicioso dos The Gift e, porventura, o mais valioso também. As composições podem não ser tão imediatas quanto as dos registos anteriores, mas seguramente constituem pequenos trechos de uma originalidade invulgar e têm uma essência de talento que promete fazer dos The Gift aquilo que eles ainda não são. Mas lá chegarão se mantiverem a tendência de AM/FM. Este trabalho ainda não é a obra-prima que os The Gift fazem prever para si mesmos, mas está muito próximo. Um dos melhores nacionais do ano.

A Paixão de Cristo

Apreciação final: 7/10
Edição: 2004
Género: Drama


O polémico filme de Mel Gibson, é um relato visualmente agressivo das últimas horas de Cristo, da traição de Judas, da prisão, das acusações de blasfémia e da condenação à morte.

O enredo é expressivo, a violência física é explicitada até aos limites do aceitável, formando uma obra pungente, que comove (ou repugna) pela sua agressividade visual, mas que não deixa de ser um testemunho da cruel natureza da humanidade. Cristo é um mártir da civilização cristã, foi negado e violentado sem dó, mesmo pelos seus seguidores e A Paixão de Cristo atira-nos essa verdade à cara. É excessivo? Talvez, mas as consciências só acordam se socadas. E este filme lesa-nos e dá que pensar.

Uma nota para a interpretação sóbria de James Caviezel e para os diálogos realisticamente apresentados em aramaico, hebreu e latim. Se como produto cinematográfico A Paixão de Cristo ficou um pouco aquém do que a história de Cristo impõe, já como dissertação das traições do homem, resulta cruel mas pertinente.

Oneida - Secret Wars

Apreciação final: 7/10
Edição: Janeiro 2004
Género: Rock Complexo/Neo-Psicadélico/Experimental



O som complexo dos Oneida continua a ser a principal referência neste álbum, o sexto de originais do trio de Brooklyn. Já sabemos que a sua música desafia qualquer classificação e abraça sonoridades do mais descontrolado rock de garagem, freneticamente misturadas com um tom 70's e polvilhadas com percussões electro-pop, jazz vanguardista e rock caótico. Os Oneida são isso mesmo: uma mistura quase cacofónica de influências aparentemente inconciliáveis, a debitar quilos de energia e confiança, agressividade q.b. e uma saudável dose de alienação. O som é catártico, muda de humor à velocidade da luz, mais depressa se afunda numa ressaca depressiva e dela se ergue com uma risada tresloucada, de gozo e satisfação.

Se tiver espírito aberto para descobrir novos trilhos para o rock, feitos de recuos que apelam aos final dos anos 80, então Secret Wars pode ser uma proposta tentadora. Complexa e monolítica, quase até ao limite da aceitação, mas tentadora.

Charlie Haden w/ Gonzalo Rubalcaba - Land Of The Sun

Apreciação final: 7/10
Edição: Agosto 2004
Género: Jazz Post-Bop/Latino



Charlie Haden abre-nos outra página de uma pretensa biografia sonora que a sua carreira tem vindo a construir. Neste Land Of The Sun, Haden partiu de uma série de composições do mexicano José Sabre Marroquín e construiu este registo. Na sua companhia, além do pianista Gonzalo Rubalcaba, alguns nomes sonantes do jazz latino como Joe Lovano, Ignacio Berroa, Miguel Zenón, Oriente Lopez, Larry Koonse, Lionel Loueke, Michael Rodriguez e Juan de la Cruz. O resultado é um tomo de faixas temperadas com o requinte do bom gosto, a improvisação melódica, a invenção rítmica e a intersecção serena dos diversos elementos musicais.

Land Of The Sun é um registo profundamente romântico, embora pudesse ter benificiado com a introdução de alguns arranjos upbeat que quebrariam a natureza algo soporífera das baladas. De qualquer forma, a mais recente incursão latina de Haden é bem sucedida no seu intento e deve encontrar uma audiência extensa.

Zita Swoon - A Song About A Girls

Apreciação final: 6/10
Edição: Novembro 2004
Género: Indie Intimista



Os belgas Zita Swoon regressam com A Song About A Girls. O formato é simples: arranjos transparentes e um som quente, maioritariamente acústico. Este trabalho é um disco muito pessoal, sob uma atmosfera de serenidade contagiante, de canções fortes que combinam letras em inglês e em francês.

As canções mostram-se sem qualquer pretensão, são aquilo que é suposto serem, como criações sinceras, actos onde a assinatura é a qualidade. Contudo, a natureza doméstica das gravações, se lhes confere uma maior intimidade, perfeitamente audível, também as faz deslizar para a monotonia de uma produção minimalista, ainda que minuciosamente ponderada. É esse o maior defeito de A Song About A Girls: o disco torna-se algo enfadonho e dificilmente resiste no leitor de cd's até ao fim. De qualquer jeito, é um registo com os seus méritos e merece uma audição, especialmente da parte dos adeptos do som alternativo pouco elaborado e despido de preconceitos. Há aqui laivos de Serge Gainsbourg, ou mesmo Nick Cave, enfeitados com algum exotismo e maturidade.

Ricardo Villalobos - Thé Au Harem d'Archiméde

Apreciação final: 6/10
Edição: Outubro 2004
Género: Electrónica/Experimental/Techno Minimalista/Club-Dance



O chileno Ricardo Villalobos tem vindo a construir uma discografia extensa de música minimalista, sob as conceituadas etiquetas Playhouse e Perlon. Depois do êxito de Alcachofa (2003), Thé Au Harem d'Archiméde apresenta-se como um disco sem ideias pré-concebidas, um desfile de incessantes jams de electrónica minimalista. As faixas são hipnóticas, esparsas mas unidas numa sensualidade elegante, luxuosas na sua simplicidade, refinadamente nocturnas e suaves. Não se trata de um disco de apreensão imediata, mas a sua textura sonora é apelativa, chama à descoberta e lança pistas para a aurora de um micro-house progressista. Aceitamos o desafio?

Bob Schneider - I'm Good Now

Apreciação final: 6/10
Edição: Abril 2004
Género: Pop-Rock/Cantautor



Bob Schneider é um americano de Austin, praticamente desconhecido no mercado europeu. A sua música vai desde o curioso rock de bar às mais sensíveis composições íntimas, com pitadas de funk, country e folk.

I'm Good Now revela uma razoável bateria de canções, derivando das estruturas simples, das vocalizações atempadas e das letras divertidas. Talvez este registo seja capaz de trazer Bob Schneider a audiências maiores e a um estatuto que o músico ainda não conseguiu atingir. Há neste disco algo de Dave Matthews, dos Counting Crows e, aqui e ali, de Bruce Springsteen.

O segundo registo de estúdio de Bob Schneider tem algumas faixas mainstream, entremeadas com outras mais alternativas. Ainda assim, para um pretendente ao estatuto de cantautor, o disco não apresenta a versatilidade exigível, resvalando displicentemente para o facilitismo pop na maior parte das faixas. E esse é o seu maior pecado.

Elvis Costello - Kojak Variety

Apreciação final: 5/10
Edição: Agosto de 2004 (Re-edição)
Género: Blues/Rock'N'Roll



Originalmente lançado em 1994, Kojak Variety foi re-editado este ano, com o acrescento de vinte temas não incluídos na versão original. Neste trabalho, Elvis Costello escolheu alguns temas do blues e deu-lhes uma nova roupagem, criando um tomo coerente de canções, algures entre o blues mais costumeiro e o rock'n'roll mais mexido. A oferta é honesta, mas o desfecho fica aquém do propósito. Além das boas interpretações, o mérito deste título é apenas um: desperta-nos a curiosidade pelos originais!

terça-feira, 7 de dezembro de 2004

Nirvana - With The Lights Out

Apreciação final: 7/10
Edição: Novembro 2004
Género: Grunge-Rock/Pop-Rock Alternativo


Antes dos Nirvana, o rock alternativo estava confinado a secções especiais nas lojas de música, distantes da atenção do público. As grandes editoras consideravam-no um género residual. O segundo álbum do trio de Seattle, Nevermind, ainda hoje considerado um dos melhores registos da história, além de trazer os Nirvana ao estrelato mundial, devolveu ao rock o estatuto merecido. Os Nirvana tinham mudado o mundo.

With The Lights Out é a resposta a um anseio antigo dos seguidores da banda. Desde o suicídio de Cobain, em Abril de 1994, os fãs pediam a edição das raridades, B-sides e takes alternativos dos Nirvana. Pois bem, é precisamente isso que esta edição oferece. Dentro da caixa especial, um DVD e três CD, num total de 81 faixas, compostas maioritariamente de material não editado, a não ser em edições bootleg. De qualquer forma, nenhum tema relevante foi deixado fora, o que faz desta edição, a recolha final das raridades e outtakes dos Nirvana.

Este lançamento é uma preciosidade para os admiradores da banda mas, para auditores mais atentos, pode não parecer tão apelativo quanto era suposto. O interesse das faixas seleccionadas resume-se à curiosidade das razões históricas, mais do que à qualidade das gravações, ou à relevância do material. Estão presentes várias gravações quase-domésticas, muitos solos acústicos e versões diferentes de músicas conhecidas dos Nirvana.

With The Lights Out não será uma decepção para ninguém, mas é um presente natalício mais recomendável para os fãs indefectíveis da banda.

Cidade de Deus

Apreciação final: 8/10
Edição: 2002
Género: Drama/Thriller/Policial


Cidade de Deus é uma favela do Rio de Janeiro que, durante os anos 80, se tornou um dos maiores focos de violência do Brasil. O enredo deste filme aborda a vida quotidiana dos delinquentes da Cidade de Deus, cujas vidas de alguma forma se intersectam. O narrador é um jovem aspirante a fotógrafo que tenta fugir ao destino fora-da-lei da favela. Ele é o elemento de humanidade que desponta da violência e da miséria humana da Cidade de Deus.

Cidade de Deus é um excelente documento cinematográfico, com uma realização sublime de Fernando Meirelles, um argumento inteligente e uma montagem perfeita. Sem dúvida, um dos melhores filmes dos últimos anos.

The Czars - Goodbye

Apreciação final: 6/10
Edição: Novembro 2004
Género: Pop-Rock Alternativo



Algures entre a pop mais melosa e a country tradicionalista, está o tom dos The Czars. Este é o terceiro registo da banda de Denver. O pessimismo outunal continua a pautar as estruturas líricas das músicas, John Grant não consegue encontrar optimismos catárticos. E ainda bem, os Czars não ficam bem com outro som. A beleza deste registo está na fina fronteira entre a melancolia e a tristeza. Goodbye não é um disco sombrio, mas é definitivamente um registo melancólico, algo misantropo, fechado sobre si mesmo. A poesia cruza-se com o desapontamento, o remorso e o cinismo, o disco é subtil, não é óbvio mas com alguma persistência percebe-se a medula dos The Czars. E afinal, eles até nem soam nada mal. Gosto especialmente das faixas "Paint The Moon" e "Pain" (faz-me lembrar os Mull Historical Society).

Se o disco resistir à primeira audição, então revelar-se-à a natureza dos The Czars, aparentemente difusos, mas com talento para merecer uma atenção especial.

Gonzales - Solo Piano

Apreciação final: 6/10
Edição: Setembro 2004
Género: Instrumental/Piano



Conceber um disco que se reduz ao som do piano, sem qualquer acompanhamento, não é tarefa a que qualquer músico se entregue. Foi esse o desafio que Gonzales decidiu aceitar. Dezasseis faixas em registo solo de piano é a proposta do último trabalho do canadiano, celebrizado pela sua colaboração com a polémica Peaches.

Neste Solo Piano não há palavras a interromper o curso triunfante da música, as composições de piano desfilam, nuas e puras, absolutamente incorruptas. Surpreendentemente, ou talvez não, as composições não são de digestão difícil, fluem com agilidade e são absorvidas em instantes de prazer espontâneo. A filosofia é bastante díspar de The Presidential Suite mas é amostra do talento de "Chilly" Gonzales no instrumento que lhe ensinou o amor pela música: o piano.

As composições podem não ser excelsas, estão longe de fazer de Solo Piano um clássico; ainda assim, vale a pena satisfazer o desejo de ouvir Gonzales sozinho ao piano.

Sigmatropic - Sixteen Haiku & Other Stories

Apreciação final: 5/10
Edição: Janeiro 2004
Género: Experimental/Indie-Rock



O projecto experimental do grego Akis Boyatzis fez a adaptação da poesia de George Seferis para o tecido lírico das composições deste registo. Vinte e duas faixas sem nome, tipicamente Sigmatropic, interpretadas com o cunho pessoal de cada um dos vários convidados ilustres: Robert Wyatt, Laetitia Sadier (Stereolab), Martine Roberts (Broken Dog) Alejandro Escovedo, Edith Frost, Cat Power, Chan Marshall, Mark Eitzel, Howe Gelb e Steve Wynn. Contudo, apesar do desempenho honesto de cada um dos participantes, nenhuma das faixas se afirma definitivamente, parece faltar-lhes uma noção de compromisso superior. É verdade que são faixas algo excêntricas, íntimas, relaxantes e sensuais, mas os cristais luzidios que as compoêm não chegam para afastar irremediavelmente os espectros sombrios do silêncio.

A poesia de Seferis, laureado com o Nobel, merecia uma melhor homenagem musical.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

Talib Kweli - The Beautiful Struggle

Apreciação final: 6/10
Edição: Setembro 2004
Género: Hip-Hop/ Rap Underground



O talento de Talib Kweli é distinguido há alguns anos no seio da esfera hip-hop, especialmente desde a participação no projecto Black Star, na companhia de Mos Def e do DJ Hi-Tek. Desde então, Talib conquistou o respeito dos seus pares e da crítica, tornando-se um dos rappers mais elogiados à escala planetária. Os elogios públicos do consagrado Jay-Z ajudaram à consolidação dessa imagem. Contudo, Talib Kweli não foi capaz, de explodir comercialmente e The Beautiful Struggle é a primeira tentativa assumida de aproximar o registo underground que caracterizava os seus trabalhos anteriores, do exigente crivo do comercial mainstream. O resultado é um pouco confuso, não se chega a perceber o que mais pesa nas criações deste álbum, se a natureza irreverente da afirmação do discurso ou se a tentativa de alargar esse discurso a outros públicos. O desfecho: não é um disco underground, tampouco será um retumbante êxito comercial. Ainda assim, não restem dúvidas, há algumas boas faixas de hip-hop mas não chegam para fazer deste A Beautiful Struggle aquilo que ele deveria ter sido.

Jello Biafra & The Melvins - Never Breathe What You Can't See

Apreciação final: 6/10
Edição: Outubro 2004
Género: Punk Revivalista



O antigo frontman dos Dead Kennedys regressa, na companhia dos Melvins, em Never Breathe What You Can't See. O cinismo corrosivo e o intervencionismo político de Biafra não foram minorados neste registo, antes parecem ter ganho um novo fôlego. O suporte musical dos Melvins é um precioso ajutório para a construção de uma sonoridade híbrida, algures entre uma recriação dos defuntos Dead Kennedys e o metal sujo e afirmativo dos Melvins. É curiosa a fusão entre estes veteranos iconoclastas, a berraria estridente de Biafra e a electrizante interjeição das guitarras de Buzz Osborne.

O registo é acerbo, sarcástico q.b., tenso e modernamente punk.

Cold Mountain

Apreciação final: 5/10
Edição: 2003
Género: Drama/Romance


Nos vagos dias da Guerra Civil Americana, o soldado desertor Inman (Jude Law) enceta um atribulado regresso a Cold Mountain, sua terra natal, esperando encontrar a amada Ada (Nicole Kidman), por quem se havia apaixonado antes da partida para a guerra. Pelo caminho, Inman cruza-se com um punhado de personagens pitorescas, enquanto Ada tenta gerir a quinta do seu falecido pai com a ajuda da grosseira camponesa Ruby (Renée Zellweger).

Este é o mote para Cold Mountain, um razoável exercício de reflexão sobre a tenacidade do amor e as adversidades que se lhe opõem pelas circunstâncias da vida. E como a guerra pode ser um terrível destruidor de utopias.

Uma nota para a interpretação de Zellweger, oscarizada pela Academia, num registo consideravelmente distante da imagem a la Bridget Jones que lhe está colada. O resto é uma promessa de filme interessante, que sacrifica a exploração da história à xaroposa história de amor. Negócio oblige...

Kathryn Williams - Relations

Apreciação final: 6/10
Edição: Maio 2004
Género: Folk/Indie/Cantautor



Kathryn Williams é há muito comentada como uma das vozes liderantes da cena folk. A cantora conquistou uma reputação considerável muito à custa do registo Little Black Numbers, caracterizado por um som tipicamente lo-fi, íntimo e profundo. Este Relations é um álbum de versões que a própria Williams define como uma reconciliação com a música. É sabido que um álbum exclusivamente feito de covers é empreita arriscada; esse risco é assumido pela cantora e o resultado, não sendo excelente, é de bom nível. Do alinhamento fazem parte temas de Neil Young ("Birds"), Leonard Cohen ("Hallelujah"), The Byrds ("The Ballad Of Easy Rider"), Velvet Underground ("Candy Says"), Bee Gees ("I Started A Joke"), Lee Hazlewood ("Easy And Me"), Nirvana ("All Apologies"), entre outros.

Como sempre num álbum deste género, algumas versões funcionam melhor do que outras. Não gosto de "All Apologies", parece-me uma distorção turtuosa dos princípios básicos da canção de Cobain. Por outro lado, a versão de "Hallelujah" está próxima da que já havia sido feita por Jeff Buckley e constitui um dos pontos altos do registo. "Spit On A Stranger" e "Candy Says" também são interessantes.

Relations não é um trabalho generalista, mas merece uma visita curiosa. Deixe-se seduzir pela música.

Young Gods - Music For Artificial Clouds

preciação final: 5/10
Edição: Abril 2004
Género: Ambiental/Minimalista



Formados em 1985, na cidade suiça de Genebra, os Young Gods deixaram o seu cunho pela limpidez da sua música, pela beleza poética dos seus registos, feita de impulsos induzidos pela adrenalina, como que cruzando com perícia, flores e serras eléctricas, em cima de uma mesa de misturas. Quatro anos após a última edição em disco, Music For Artificial Clouds assinala o regresso da banda suiça. O álbum assenta no formato ambiental-minimalista, a música reduz-se à sua natureza mais ínfima, debitam-se sons esparsos.

Esperar quatro anos por um novo álbum dos Gods e receber este Music For Artificial Clouds, não pode deixar de ser considerado, por injusto que tal possa soar, um frustrante anticlímax, uma espécie de traição aos admiradores do trio suíço.

Fãs dos Young Gods, esqueçam este disco! Admiradores da música experimental, ouçam...sem esperar nada especialmente inovador. Music For Artificial Clouds assemelha-se mais a uma banda sonora de um sinistro filme de ficção científica do que a um desenredado exercício de puro relaxe.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Janela Secreta

Apreciação final: 5/10
Edição: 2004
Género: Drama/Thriller/Suspense


Realizado por David Koepp (argumentista de Homem Aranha e Sala de Pânico) e protagonizado por Johnny Depp e John Turturro, foi recentemente lançado em DVD no mercado nacional este Janela Secreta.

O bem sucedido escritor Mort Rainey (Depp), refugia-se numa casa isolada na floresta, depois de descobrir o adultério da sua mulher. Enquanto decorre o processo de divórcio e à medida que a sua vida se torna cada vez mais asceta, Mort é acusado de plágio por um enigmático psicopata (Turturro), que reclama a autoria de um dos seus textos. O enigma da identidade do psicopata e a necessidade de provar a autoria da história é o elo dinamizador do enredo.

Depp e Turturro estão excelentes, a realização é boa. O que falha mesmo é o epílogo do filme, uma verdadeira decepção, sem uma ponta de originalidade, em plágio evidente de outras propostas no género. Num filme sobre plágio, para quê copiar?

To Rococo Rot - Hotel Morgen

Apreciação final: 6/10
Edição: Maio 2004
Género: Electrónica/Experimental


O trio berlinense To Rococo Rot, fundado em 1994, inspira-se no pós-rock, combinando a electrónica com pequenos elementos acústicos, na mesma linha dos Tortoise ou dos Stereolab. O experimentalismo é a filosofia basilar deste conceito, partindo de um tecnho simples, enriquecido por complexos ambientes de hipnose sonora. O conceito é operado engenhosamente neste registo, fazendo de Hotel Morgen uma inspirada combinação de faixas suficientemente criativas para convencerem os mais cépticos, num estilo único, aqui elevado a uma completude não existente nos registos anteriores dos To Rococo Rot. Ainda assim, a sensação do ouvinte perante o desfile das faixas é de que falta algo. As composições não atingem um nível superior: são agradáveis, demonstram o talento do grupo, mas ficam aquém de um integral compromisso de excelência. Tornam-se reféns de si mesmas.

Hotel Morgen é um manifesto de afirmação de um estilo, mais um contributo irónico para proclamar os To Rococo Rot como representantes máximos de um género musical quase único: o seu!

Apesar de não ser um disco excepcional, é recomendável aos adeptos da electrónica experimentalista.

Badly Drawn Boy - One Plus One Is One

Apreciação final: 6/10
Edição: Julho 2004
Género: Rock Elaborado/Alternativo/Indie


Os álbuns anteriores de Damon Gough (conhecido como Badly Drawn Boy) mostravam um músico incansável e intensamente criativo que rapidamente ascendeu ao estatuto de ícone indie, especialmente após a produção da banda sonora original do filme About A Boy e do álbum Have You Fed The Fish?.

Este é o seu quarto registo e faz uma abordagem singela, ainda que em permanente peleja entre a simplicidade e a complexidade, algures entre um Jim O'Rourke ou Elliot Smith e os Jethro Tull. À medida que o ouvinte pula as faixas de One Plus One Is One, é-lhe induzida uma introspecção agridoce, uma jornada ampla pelas adversidades do amor. As músicas? Dão um toque artesanal quase barroco, numa produção minuciosa, simultaneamente imponente. Mas será que estas canções mais elaboradas terão mais êxito do que as mais simples?

One Plus One Is One atesta um refinamento de Damon Gough nos terrenos já conquistados, ao invés da procura de novos espaços. É essa a limitação maior do disco, mas não o impede de ser um exercício de audição valioso, embora a exuberância da roupagem dos temas possa ofuscar a sua verdadeira essência.

A Minha Namorada Tem Amnésia

Apreciação final: 6/10
Edição: 2004
Género: Comédia/Romance


Do realizador de Terapia de Choque(2003), chega agora ao mercado DVD português, A Minha Namorada Tem Amnésia, com Adam Sandler, Drew Barrymore e Rob Schneider nos principais desempenhos.

Henry Roth (Sandler) é um veterinário que vive no Havai e que faz de playboy junto das frequentadoras passageiras daquela ilha paradisíaca. Um dia, apaixona-se ocasionalmente por Lucy (Barrymore), uma jovem que sofre de amnésia de curto prazo. Uma vez que ela jamais se lembrará de o conhecer, Henry vai tentar conquistá-la todos os dias, na esperança de que ela acabe por se recordar de si.

A Minha Namorada Tem Amnésia é uma comédia simples, com alguns gags divertidos, enquadrados por personagens caricatas: um bodybuilder sexualmente frustrado, uma mulher que se confunde com um homem e Ula, um havaino barrigudo e indolente (Schneider).

Saint Germain des Prés Café vol. 5

Apreciação final: 6/10
Edição: Outubro 2004
Género: Electro-jazz/Chill-Out/Nu-jazz


A colecção Saint Germain des Prés Café dispensa apresentações. De Paris a Tóquio, passando por Londres e Nova Iorque, trata-se da mais famosa compilação de electro-jazz. A evocação da zona de Saint Germain remete-nos para a atmosfera fumosa dos pequenos clubes de jazz de Paris, onde tocaram Dizzy Gillespie, Miles Davis ou Duke Ellington.

Neste quinto volume da série destaca-se o novo conceito gráfico da capa. Em termos sonoros, mantém-se a aposta nas novas tendências do jazz electrónico, um estilo musical que desagrada aos mais indefectíveis seguidores do jazz tradicional. Ainda assim, para quem aprecia este género, a colecção é interessante. O volume 5 é um bom exemplo do que vale actualmente o nu jazz.

A título de exemplo, refira-se que fazem parte do alinhamento faixas de Slow Train, De-Phazz, Stacey Kent, Koop, dZihan & Kamien e Gotan Project, entre outros.

Death In Vegas - Satan's Circus

Apreciação final: 4/10
Edição: Outubro 2004
Género: Electrónica/Dub/Club/Pós-Rock


Projecto britânico que vingou nos anos 90, os Death In Vegas são Richard Fearless e Tim Holmes. Os registos anteriores envolviam uma série de vocalistas convidados, guitarristas também, e daí resultavam trabalhos interessantes, especialmente The Contino Sessions. Neste Satan's Circus o duo abandonou esse formato, partiu para a composição assumindo uma maior liberdade criativa, com um risco proporcionalmente acrescido, deixando de parte a voz e concebendo um registo meramente instrumental. A audição do disco sugere algumas conclusões: o material reproduzido é obscuro, desponta alguma desordem e atrapalhação.

As melodias soam excessivamente depressivas, não há uma linha de equilíbrio no alinhamento, o ouvinte perde-se e rejeita o conceito. Não há um climax. E sem ele, não vale a pena escutar as onze faixas do disco.

Uma desilusão para quem conhece o passado dos Death In Vegas.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

Willard Grant Conspiracy - Regard The End

Apreciação final: 7/10
Edição: Maio 2003


Quando ouvi este disco, a primeira ideia que abordou a caneta indecisa foi escrever simplesmente: Robert Fisher é o Stuart Staples (Tindersticks) da folk. Pois bem, Robert Fisher, o vocalista dos Willard Grant Conspiracy, encaixa a sua voz grave e elegante, num folk-rock quase negro, adulto e enraízado no country.

A gravura que ilustra o disco, sugestivamente matizada a sépia, é uma figuração de um universo alternativo, nascido de coisa nenhuma, feito de um sossego que o stress esconjurou da mente e que resgatamos na sala de estar, por força do som sereno dos Willard Grant Conspiracy.

As instrumentalizações são cristalinas, as guitarras parecem toques mágicos, as orquestrações de cordas completam as canções, numa simbiose que roça a perfeição. Mark Lanegan deve apreciar este registo. E quem não gosta do tom próximo e único dos Willard Grant Conspiracy? Se os Tindersticks fossem americanos, talvez soassem assim...

Ian Brown - Solarized

Apreciação final: 7/10
Edição: Novembro 2004


Ex-vocalista dos Stone Roses, Ian Brown mantém uma imagem de arrogância espaventosa, muito por culpa do simbolismo associado à sua antiga banda. Após a dissolução desse projecto, Brown seguiu uma carreira a solo, sendo Solarized o seu quarto registo individual.

O disco manifesta iniludíveis influências do emblemático som Madchester e torna-se um curioso exercício de auto-indulgência, ornado por batidas com um bom gosto excêntrico, quase kitsch, uma voz luminosa e a vibração característica de Brown. Além disso, este longa-duração invoca a exploração de outros caminhos musicais, sem perturbar uma fidelidade inabalável às doutrinas do passado. A faixa "Keep What Ya Got" contou com a colaboração de Noel Gallagher (Oasis).

Solarized é um álbum agradável e sadio mas revela um Ian Brown a tentar lavar-se de um rótulo que é indelével: ele continua a ser "aquele tipo" dos Stone Roses.

Nina Nastasia - Dogs

Apreciação final: 6/10
Edição: Junho 2004 (re-edição)


A nova-iorquina Nina Nastasia cria música intimista, de evocação do sentido da perda, delimitada por horizontes de guitarra, em tons leais, numa confissão de utopias quebradas. Dogs foi originalmente editado em 1999, pela mão de uma pequena editora e é agora recuperado.

Já neste primeiro tomo de canções, era exemplarmente identificável o toque prostrado, mesmo gentilmente austero e intimamente sombrio e delicado de Nina Nastasia. Quinze faixas, voz refinada e frágil (lembram-se de Aimee Mann ou Rosie Thomas?) e guitarra em tons outonais, de apelo irresistível à recolha nos recantos de serenidade que se escondem em nós.

Dogs é um íntegro convite a descobrir Nina Nastasia. E a dela gostar.

U2 - How To Dismantle An Atomic Bomb

Apreciação final: 6/10
Edição: Novembro 2004


Cada lançamento dos irlandeses U2 é um acontecimento mundial, sempre escoltado por uma exaustiva campanha de promoção e por uma considerável conquista de airplay nas rádios nacionais. O single de apresentação, "Vertigo", fazia adivinhar um registo mais rock da banda, mas à excepção de uma ou duas faixas, o disco não faz essa abordagem. Do alinhamento constam onze temas de pop U2 não contaminado, revelando a maturidade da banda, bem suportada por uma produção de grande nível.

How To Dismantle An Atomic Bomb vem provar que os U2 continuam a ser artesãos capazes de arquitectar um disco melódico e cativante e que não frustrará os imensos seguidores do grupo. Contudo, o registo não é destemido, os U2 seguem com cautelas o curso da composição, dando primazia ao estilo que os celebrizou no passado, em detrimento da procura de sonoridades inovadoras. Certamente, o fracasso de Pop (1997) continua a envergonhá-los. O conservadorismo do álbum não incomodará os apreciadores mas impede o registo de atingir degraus mais altos de brilhantismo, ficando aquém de Joshua Tree ou Achtung Baby.

Uma ode às raízes musicais dos U2, mais do que um passo em diante, How To Dismantle An Atomic Bomb é um disco fiel à doutrina dos U2. A abantesma do epíteto de maior banda rock do planeta assombra os próprios U2; eles são incapazes de vencer o monstro, evitam-no, e seguem. Ainda assim, goste-se ou não, How To Dismantle An Atomic Bomb é um bom disco dos U2.

terça-feira, 30 de novembro de 2004

!!! - Louden Up Now

Apreciação final: 7/10
Edição: Junho 2004


Louden Up Now é o novo projecto do octeto !!! (supostamente o nome da banda pronuncia-se chk chk chk). Os !!! nasceram do desmembramento dos Yah Mos e, ao invés de seguirem o mesmo enquadramento sonoro, viraram-se para música mais dançável, com batidas apelativas e estruturas melódicas exuberantes e energéticas.

Frequentemente associados ao mesmo movimento dos Radio 4 ou dos Rapture, os !!! partilham a mesma doutrina, colhem as influências do funky-punk dos anos 80 (os sinais de Clash e os Talking Heads pululam por aqui) e convertem-nas num dance-punk revivalista. Além disso, o discurso é político, orgulhosamente anti-Giuliani, anti-Bush e anti-Blair.

O resultado é um registo valioso, sofisticado, recheado de raivas moderadas, com imensa criatividade, disseminada pelas faixas do disco. Um autêntico clássico da mais hodierna música independente, verdadeiramente único, de excelência na produção e altamente aconselhável. A ouvir com muita insistência.

Johnny Cash - My Mother's Hymn Book

Apreciação final: 7/10
Edição: Abril 2004


Mais uma das edições póstumas da obra de Johnny Cash, My Mother's Hymn Book é exactamente aquilo que o título anuncia: uma colecção de canções que a sua mãe cantava.

O formato é simples: a voz barítona e profunda de Cash, a guitarra acústica em fundo e canções desataviadas e melancolicamente belas. Nas notas do próprio autor para o disco, Cash afirma ser este o seu registo preferido. Do alinhamento não constam temas originais mas as canções escolhidas marcaram decisivamente o cantor e são aqui apresentadas de forma sentida, numa veneração honesta. Apesar de não ser o último disco editado de Johnny Cash, My Mother's Hymn Book apresenta, com uma singeleza enternecedora, as raízes que levaram Cash a interessar-se pela música e perfaz, em simultâneo, o requiem mais justo a um dos grandes músicos do nosso tempo.

Le Tigre - This Island

Apreciação final:6/10
Edição: Outubro 2004


O trio feminista Le Tigre move-se nas directrizes do pós-punk, com imenso glamour, envolvido em tons eclécticos e uma saudável dose de electrónica. Quando This Island foi lançado pela major Universal, editora que é a antítese do movimento riot-girls, a surpresa instalou-se. Seriam os Le Tigre capazes de manter a irreverência dos trabalhos anteriores? A resposta não podia ser mais inequívoca: estes sobreviventes do electroclash construiram o álbum que já queriam ter feito, um registo que esmurraça consciências, mantendo as preferências estéticas dos seus antecessores.

O álbum é irreverente, divertido e honesto, mostrando-nos uma banda que promete feitos maiores para o futuro e que, definitivamente, é uma das surpresas para o ano de 2004. Uma nota de destaque para a lunática versão de "I'm So Excited" das Pointer Sisters.

This Island não é o melhor disco do ano, longe disso, mas é um registo entretido, com bom ritmo, um desatino permanente, em prol da afirmação de um estilo. E os Le Tigre têm muito estilo.

Maria Rita

Apreciação final: 8/10
Edição: Outubro 2003


Maria Rita é filha de Elis Regina e herdou da mãe os gestos, o olhar, o balanço do corpo e o ritmo quente do timbre da voz. Durante o ano de 2004, Maria Rita tornou-se uma das vozes mais populares do Brasil, um dos principais talentos da MPB, temperada com o bom gosto do jazz. Piano, contrabaixo e bateriam juntam-se à voz de Maria Rita, convidam as violas, os violinos e os violoncelos, em alguns temas, na construção de um tomo impressionante, um desfile de canções brilhantes, a maior revelação da música brasileira dos tempos mais recentes. Os parceiros na composição são ilustres: Cláudio Lins, Milton Nascimento, Rita Lee, Zélia Duncan, Lenine, entre outros.

Gosto especialmente do tema "Pagu" (composto por Zélia Duncan e Rita Lee - excelente letra e música).

Recentemente, a cantora foi galardoada com os Grammys latinos para as categorias de revelação do ano, melhor disco de MPB e melhor música brasileira. É preciso dizer mais?

segunda-feira, 29 de novembro de 2004

Jorge Palma - Norte

Apreciação final: 6/10
Edição: Novembro 2004


Três anos depois do lançamento do último trabalho de originais, Jorge Palma está de regresso. Norte é um disco versátil, mostra um Jorge Palma desdobrado em diversos estilos musicais, colhendo influências da pop, do jazz e mesmo dos blues.

Goste-se ou não, um novo disco de Palma é sempre um momento especial na música nacional, não fosse ele um dos seus principais dinamizadores, com letras irónicas e acutilantes e composições musicais elaboradas e atraentes. Neste trabalho, Jorge Palma parece à procura de novos trilhos para percorrer, de bússola na mão, buscando o Norte no horizonte; a liberdade criativa de Jorge Palma atinge níveis elevados, sem pretensões, o disco assume uma frontal demissão do crivo da crítica, a sua fronteira apenas uma : a música. Ao longo de treze faixas (mais duas escondidas "com rabo de fora", como Palma lhes gosta de chamar) produzidas por Mário Barreiros, o formato a la Jorge Palma é perfeitamente identificável, o piano é o pano de fundo, aceitando a companhia de outras instrumentalizações subtis, sejam elas cordas ou sopros. Ainda assim, não deixa de se instalar algum desapontamento...as canções são boas, mas não tão boas assim! O desfile dos temas do disco assemelha-se a uma lista de promessas por cumprir, a frases sem o remate final. Em tempos idos, ao corpo da música, Palma juntava uma alma própria. Neste Norte as canções mantêm as curvas sedutoras, ostentam-se vaidosamente, mas preguiçam, vagas e sem rumo.

Norte é um teste. Ouvi-lo é perceber os caminhos errantes de Palma. E perceber que para alguém como Jorge Palma o Norte não estava por descobrir, procurá-lo de novo é um desnorte.

Depeche Mode - Remixes 81-04

Apreciação final: 7/10
Edição: Outubro 2004


Lançado em formato triplo, este Remixes 81-04 pretende ser uma recolha extensa das inúmeras versões e remixes da obra dos britânicos Depeche Mode. O registo é bem conseguido, embora fosse preferível reduzi-lo ao formato duplo. Uma prova da influência que os Depeche Mode tiveram está na lista de participantes: François Kevorkian, DJ Shadow, Underworld, Goldfrapp, Kruder & Dorfmeister, Timo Maas, Air, Colder, Adrian Sherwood e Danny Tenaglia, entre muitos outros.

O alinhamento é demasiado extenso para manter a coesão que se exigia, definitivamente algumas faixas não deveriam ter sido incluídas neste trabalho. Ainda assim, merecem ser destacadas as versões de "Policy Of Truth" (Kevorkian), "Home" (Air), "Personal Jesus" (Kevorkian), "Useless" (Kruder & Dorfmeister), "In Your Room" (Jonny Dollar) e "Dream On" (Dave Clarke).

Remixes 81-04 é um testemunho inequívoco da modernidade dos Depeche Mode e vai trazer o som do grupo aos frequentadores das discotecas e clubes.

Spiderbait - Tonight Alright

Apreciação final: 5/10
Edição: Agosto 2004


O trio australiano Spiderbait tornou-se uma das mais emblemáticas bandas dos anos 90, graças ao seu caótico rock revivalista, com injecções do mais puro punk de garagem.

É verdade que o seu som não é muito inovador, segue pistas valiosas de outros projectos do género mas Tonight Alright consegue ser um registo meritório. Uma nota de destaque para a improvável cover de "Black Betty", um original de Leadbelly.

Provavelmente os Spiderbait não atingirão o estatuto dos seus compatriotas The Vines ou Jet, mas merecem seguramente ser ouvidos. A fusão da estrutura melódica do punk com batidas mais eletro, acordes decididamente retro e irreverência q.b. pode não ser brilhante mas Tonight Alright é um disco que vale a pena ouvir.