Warp, 2013
Desde o lançamento do icónico Music Has the Right to Children, no longínquo Setembro de 98, os escoceses Boards of Canada tornaram-se porta-estandartes de um movimento musical que, até esse momento, não havia transposto os limites do anonimato. Nessa edição, Michael Sandison e Marcus Eoin captaram, com os olhos postos na electrónica que ouviam, o bucolismo da Edimburgo natal, apresentando-o ao mundo num cardápio sonoro muito próximo da profusão setentista dos precursores do sintetizador, mas contaminada por uma visão moderna na essência. De então para cá, e mesmo continuando a remeter-se a um isolamento mediático pouco entendível (raras entrevistas e informações), os manos escoceses granjearam uma franja muito significativa de seguidores (melómanos) e discípulos (criadores musicais) da ciência detalhista do seu laboratório de sons e, sobretudo, da dimensão emocional da sua música. Em boa verdade, os BoC são cientistas do som que sempre deram conta de uma afinidade com o pormenor enquanto matéria indispensável à sua álgebra de construção de texturas. É de construção que efectivamente se trata, um labor de justaposição, se quisermos, de lentos crescendos que vão convocando paulatinamente a feliz afluência de detalhes e mais detalhes. Vê-se a partida, não se adivinha o destino.
Tornou-se clássica esta forma de evocar estados de alma - a tal dimensão humana - a partir de substâncias sintéticas e fazê-lo com ponderação e equilíbrio. Nesse particular, Tomorrow's Harvest é irreprensível em dois planos. Num primeiro nível, resgata a linguagem original dos BoC, aquela dos primeiros discos, depurando-a de pequenos detalhes (lá está) algo anacrónicos e recontextualizando-a nos paradigmas estéticos actuais, sem lhe denegrir a identidade, a ponto da baixela BoC se tornar imediatamente reconhecida por qualquer melómano mais atento. Como se não tivessem passado oito anos desde o último longa-duração. A outro nível, o vínculo entre os sons (os detalhes, pois claro) é do mais ambiental que a dupla fez, com a soturna simbiose de elementos do costume, mas com amplitude mais expandida, mais desprendida, quase cinematográfica, a invocar uma miríade de cenas de cinema, deste e doutros tempos, que mais não são do que alçapões emocionais de todos nós. Nessa subjectividade intrínseca, é o ouvinte que escolhe a escapatória deste caleidoscópio.
Tornou-se clássica esta forma de evocar estados de alma - a tal dimensão humana - a partir de substâncias sintéticas e fazê-lo com ponderação e equilíbrio. Nesse particular, Tomorrow's Harvest é irreprensível em dois planos. Num primeiro nível, resgata a linguagem original dos BoC, aquela dos primeiros discos, depurando-a de pequenos detalhes (lá está) algo anacrónicos e recontextualizando-a nos paradigmas estéticos actuais, sem lhe denegrir a identidade, a ponto da baixela BoC se tornar imediatamente reconhecida por qualquer melómano mais atento. Como se não tivessem passado oito anos desde o último longa-duração. A outro nível, o vínculo entre os sons (os detalhes, pois claro) é do mais ambiental que a dupla fez, com a soturna simbiose de elementos do costume, mas com amplitude mais expandida, mais desprendida, quase cinematográfica, a invocar uma miríade de cenas de cinema, deste e doutros tempos, que mais não são do que alçapões emocionais de todos nós. Nessa subjectividade intrínseca, é o ouvinte que escolhe a escapatória deste caleidoscópio.
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