7,6/10
Sargent House, 2013
A californiana Chelsea Wolfe é, hoje, figura de proa de um ideário musical que, à falta de definição menos simplista, se pode apelidar de folk tétrica experimental. Com efeito, é na estruturação tradicionalista da folk que a norte-americana recolhe a cartilha inspiradora de uma fatia muito significativa do seu cancioneiro, no mesmo jeito dos primeiros registos da britânica PJ Harvey, mas com derivações diferentes na substância. No lugar em que Harvey deposita linguagens abertamente rock, Wolfe emprega experimentalismo gótico. É tudo uma questão de interpretação da mesma causa confessional, dos seus fundamentos criativos, e nela se esgotam as simetrias Harvey/Wolfe. Além do mais, este Pain is Beauty é tão assertivo na separação de águas que, não só esbate comparações, como radica Chelsea Wolfe no papel de trovadora do sombrio, definitivamente emancipada do ventre folk. Parecem cada vez mais distantes os tempos de rendição ao minimalismo e a uma noção esqueletal de canção negra; mais do que confiar na fórmula guitarra/voz da colecção acústica que antecedeu este álbum (ou dos primeiros registos), Wolfe matura as canções com ambientes instrumentais que lhes robustecem o pendor gótico, mantendo guitarras medulares, mas quase asfixiadas. Cura para os indefectíveis que não farão júbilo das orquestrações mais expansivas ou das aparições da electrónica. O crescimento artístico não agrada a gregos e troianos.
E é de crescimento que se trata, de facultar valências novas à crueza da sua música sem aviltar o postulado original: a genuína crença no romantismo do sofrimento e na coexistência do bonito com a dor que é transversal à obra de Chelsea Wolfe. Ao mesmo tempo, Pain is Beauty é indiscutivelmente o opus mais acessível do seu cardápio discográfico, o que não quer dizer que haja aqui concessões de qualquer ordem. A música continua a ser uma oportuníssima mescla de fausto e vulnerabilidade, de tensões negras e desalento e é nessa promiscuidade emocional que encontra o seu equilíbrio. Mesmo que com uma excentricidade renovada.
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