quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Baths - Obsidian


7,5/10
Dead Oceans, 2013


Já não é surpresa a invulgaridade electrónica de Will Wiesenfeld, ou não tivesse ele gerado um sobressalto significativo por alturas do debute discográfico em 2010, na ocasião com Cerulean. A linguagem musical então apresentada era profusa na exploração de melodias fracturadas, muito próximas dos universos glitch, mas embaladas em ambientes que misturavam habilmente um sopro de negrura depressiva e a luz de electrónicas calorosas. O paradoxo estrutural do primeiro disco do californiano convenceu o orbe musical de que estava em presença de um artífice sabido nas artes da orgânica instrumental, sem dúvida, e muitas vezes a catapultar-se na ironia dos limites da saturação de sons para instilar um magote de estímulos auditivos. O contacto com Baths era, por isso mesmo, uma experiência vivida em desgastante desassossego, como não deixaria de ser qualquer tentativa de decifrar um código sonoro tão pejado de artimanhas estéticas e fundamentos. Ao mesmo tempo, atrás desse hermetismo técnico e de entre as intrincadas e pormenorizadas texturas, levantava-se uma assertividade melódica simples demais para nela se crer à primeira vista. Ora assente na intencional fragilidade vocal do autor, ora poisada nos pedaços mais amistosos de electrónica, sentia-se a alma de canções a emergir da complexidade das máquinas. Três anos volvidos e tendo vencido um grave contratempo bacteriológico que o expôs à debilidade física num passado recente, Wiesenfeld assume mais abertamente o lado negro da sua persona musical.

Se estruturalmente as peças apresentadas neste Obsidian não se demarcam dos princípios (técnicos) identitários de Baths, mormente na definição textural sempre opulenta, não é menos verdade que se revelam mais pessoais e depressivas. O que não é sinónimo de serem menos complexas. A solenidade musical de Obsidian tem par no antecessor, mas serve-se de tons e contextos mais escuros e de um laconismo maior na composição. É aí que se sente verdadeiramente a crueza intimista deste disco, tanto quanto pode sê-lo um produto artístico urdido com tamanha opacidade estética. O tom confessional é de rendição: "I have no eyes, I have no love, I have no hope" escreve Wiesenfeld algures. Aos 24 anos, não é coisa leve de cantar-se.

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