PAD, 2013
A bipolaridade da cena musical portuguesa tem qualquer coisa de desconcertante. Por um lado, fez-se discurso generalizado, pelo menos em alguns sectores da crítica, a marcação cerrada a um alegado imobilismo de grande maioria dos projectos musicais nacionais, como se apenas vivessem ancorados às tendências que vêm lá de fora, sem criatividade que se liberte desse pretenso cativeiro estético. É daí que nasce a inevitável (e irritante) sanha rotulista que sempre cola os músicos nacionais a semelhanças com outra qualquer coisa "estrangeira". Ao mesmo tempo, e aí mora o desconchavo, quando algum protagonista se "atreve" a inovar, portanto buscando outras dimensões criativas e linguagens, aqui d'el-rei que está a ser pretensioso e a arvorar-se intelectual. O caso dos bracarenses Peixe:avião é paradigmático dessa indelicadeza com os artistas lusos. Desde as primeiras manifestações, aplicaram-lhes levianamente o dístico de "Radiohead portugueses" - era raríssimo ler um texto sobre eles que não mencionasse Thom Yorke e a sua trupe. E se, numa fase inicial, uma consideração dessas pode ser encómio simpático e motivador, com o tempo vem a tornar-se mais onerosa (e pejorativa) do que propriamente elogiosa. Felizmente, Rolando Fonseca e companhia mantiveram-se à margem de toscas tipificações e prosseguiram um caminho que leva já seis anos e culmina, agora, no terceiro longa-duração.
Ao escutar este álbum homónimo dos Peixe:avião é imediatamente perceptível o crescimento artístico do quinteto luso, sobretudo na maturação das vontades experimentalistas que eram denominador comum das suas criações, mas raramente conheceram a extroversão com que se mostram aqui. Nesse particular, este registo é não só o melhor dos Peixe:avião como é o mais gloriosamente laboratorial, urdido numa linguagem sonora pejada de ruídos e ambientes que, mantendo a medula criativa da banda, a depurou com recurso a químicos e electrónicas (não esquecer que anda por cá o Astroboy, Luís Fernandes). A renovação orgânica faz todo o sentido nesta fase da carreira dos Peixe:avião, sendo a etapa seguinte do crescendo artístico que vêm revelando, e surge precisamente no momento em que havia o risco de estagnarem na fórmula que (bem) os trouxe à primeira linha da música nacional. Ao invés disso, aproveitaram o balanço confiante do trabalho bem feito (até aqui) para serem arrojados e inventivos como nunca, povoando as canções com sublimes excentricidades sonoras e uma interessantíssima incerteza na forma e no rumo. A música é menos imediata, é certo, mas é tanto mais surpreendente e cativante por isso. E este Peixe:Avião, a mutação mais recente da criatura musical bracarense, é um sólido candidato a disco nacional do ano.
Ao escutar este álbum homónimo dos Peixe:avião é imediatamente perceptível o crescimento artístico do quinteto luso, sobretudo na maturação das vontades experimentalistas que eram denominador comum das suas criações, mas raramente conheceram a extroversão com que se mostram aqui. Nesse particular, este registo é não só o melhor dos Peixe:avião como é o mais gloriosamente laboratorial, urdido numa linguagem sonora pejada de ruídos e ambientes que, mantendo a medula criativa da banda, a depurou com recurso a químicos e electrónicas (não esquecer que anda por cá o Astroboy, Luís Fernandes). A renovação orgânica faz todo o sentido nesta fase da carreira dos Peixe:avião, sendo a etapa seguinte do crescendo artístico que vêm revelando, e surge precisamente no momento em que havia o risco de estagnarem na fórmula que (bem) os trouxe à primeira linha da música nacional. Ao invés disso, aproveitaram o balanço confiante do trabalho bem feito (até aqui) para serem arrojados e inventivos como nunca, povoando as canções com sublimes excentricidades sonoras e uma interessantíssima incerteza na forma e no rumo. A música é menos imediata, é certo, mas é tanto mais surpreendente e cativante por isso. E este Peixe:Avião, a mutação mais recente da criatura musical bracarense, é um sólido candidato a disco nacional do ano.
Sem comentários:
Enviar um comentário