Dead Oceans, 2013
Embora seja precipitadamente colocada no pelotão da música vanguardista mais vezes do que seria prudente, talvez por força da indefinição formal que é comum aos seus discos, a obra da norte-americana Julianna Barwick é, antes, um muito contemporâneo (e tão menos "académico") manifesto de paisagismo sonoro, de formulações musicais assentes sobretudo na invocação do mais escapista preceituário de melodia. Os recursos são simples: um jogo equilibrado de sobreposições vocais angélicas, claramente a apontar a ambientes soniais, e levíssimas interferências de instrumentos, apenas para pontuar e circunscrever as esculturas de sons a métricas mais convencionais. Já era assim em The Magic Place, longa-duração de estreia, que, há dois anos, a trouxe à primeira linha da crítica, então granjeando os louvores generalizados que lhe impulsionaram a carreira. Nesse aspecto técnico, em Nepenthe, Barwick dá continuidade à fórmula e decalca o mesmíssimo sentido de transcendência no uso da voz e, partindo daí, ergue composições tão celestiais como antes e tão alegóricas, ao jeito abstracto de uma prece, que deixam uma reverberação quase perene no ouvido. E na mente sobeja uma imagética alva, suspensa em ares frios, plena de misticismo e quietude.
E esse culto quase psicótico da voz tem nova etapa sublimadora neste Nepenthe, talvez insinuando vizinhanças mais próximas do formato canção e um reforçado quinhão de matérias instrumentais, sem macular a sensibilidade do mágico jardim de sons de Barwick. O refinamento é, portanto, uma mera (e bem-vinda) formalidade. Depois, o facto de o álbum ter sido gravado na Islândia e, pela primeira vez no percurso de Barwick, se abrir à ajuda de terceiros - a saber: Alex Somers (produtor dos islandeses Sigur Rós), o colectivo de cordas Amiina, um coro feminino e Robert Sturla Reynisson (guitarrista dos Múm) - não são pormenores estranhos à construção de atmosferas glaciares, mais expansivas e serenamente cintilantes. Uma das mais belas elegias que podemos ouvir este ano.
E esse culto quase psicótico da voz tem nova etapa sublimadora neste Nepenthe, talvez insinuando vizinhanças mais próximas do formato canção e um reforçado quinhão de matérias instrumentais, sem macular a sensibilidade do mágico jardim de sons de Barwick. O refinamento é, portanto, uma mera (e bem-vinda) formalidade. Depois, o facto de o álbum ter sido gravado na Islândia e, pela primeira vez no percurso de Barwick, se abrir à ajuda de terceiros - a saber: Alex Somers (produtor dos islandeses Sigur Rós), o colectivo de cordas Amiina, um coro feminino e Robert Sturla Reynisson (guitarrista dos Múm) - não são pormenores estranhos à construção de atmosferas glaciares, mais expansivas e serenamente cintilantes. Uma das mais belas elegias que podemos ouvir este ano.
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