Apreciação final: 6/10
Edição: K, Maio 2006
Género: Folk Minimalista/Lo-Fi
Sítio Oficial: www.kimyadawson.com
Edição: K, Maio 2006
Género: Folk Minimalista/Lo-Fi
Sítio Oficial: www.kimyadawson.com
Há canções que nos incitam pela extraordinária simplicidade com que renunciam a ornatos frívolos e às deformadoras tramas de estúdio. Mais do que isso, no caso da quase incógnita nova-iorquina Kimya Dawson, mais conhecida pelo projecto The Moldy Peaches (união casual com Adam Green), a porção instrumental das canções nem sequer é o artigo maior. Remember That I Love You, quinto exercício a solo da americana, prova que a música é uma mera tribuna servente da voz. Não é que Dawson seja uma cantora sublime, longe disso, tampouco uma instrumentista de nível superior; nem a isso ela aspira. O cerne desta dúzia de canções é o discurso, a palavra empregada é medula de histórias quotidianas e reflexões de uma honestidade cortante. Dawson na pele de narradora. A produção recebe com agrado o protagonismo das fábulas (umas biográficas, outras metafóricas) e esconde a guitarra (e demais instrumentos) atrás da retórica pertinente de Dawson. A voz faz-se corpo, indiferente ao desprovimento musical, e captura o ouvinte num imaginário ditoso, um universo genuíno que confunde, com irónica docilidade, utopias de criança e os desmanchos do mundo real.
Se as texturas musicais de Remember That I Love You não têm arranjos e soam rudimentares, Dawson compensa essa privação com sentimentalismo verosímil. Nada de bacoco. Com uma mensagem positiva, ela toca os vértices centrais do existencialismo, a vida, a morte, a doença e o relativismo do indivíduo face ao mundo. A temática seria pretensiosa, não fosse o jeito cativante de Dawson narrar as coisas, comunicando com o ouvinte através da palavra, já não da música, e fazendo uso de recursos linguísticos com afinco e humor (ouça-se "I Like Giants", metáfora entretida sobre os complexos com o corpo do género feminino...). Umas harmonias e inflexões melódicas mais e este conjunto de canções (se assim se podem chamar) granjearia outra reputação junto da comunidade melómana. Dawson, ao invés, prefere dar-nos uma apelativa terapia anti-depressão e, se tal se difunde melhor através da letra, esqueçamos que Remember That I Love You é um álbum de canções, façamos de conta que é um livro para ler com os ouvidos e aprendamos a tirar gozo dos infortúnios.
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