domingo, 20 de agosto de 2006

Lisa Germano - In the Maybe World

Apreciação final: 6/10
Edição: Young God Records, Julho 2006
Género: Pop Alternativa
Sítio Oficial: www.lisagermano.com








Ainda que menos notada do que outras cantautoras da sua geração, não falta, porém, a Lisa Germano a vocação para musicar como poucos o encanto de sentimentos genuínos. Cada vez mais remotos estão os tempos em que tocava com John Mellencamp, algures na década de 80, evidenciando ânimos rock que o tempo fez esfumar. Hoje, ela prefere segredar ao piano ou à guitarra, sussurrando-nos melodias de voz quente e delicada, em chamamento de alegorias frágeis e de envolvimento nostálgico. A beleza nublada das canções e dos cenários que invocam vale-se da expressividade minimalista do álbum, seja no registo vocal que raramente se expande além do cativante cicio de Germano, seja no underacting das cláusulas instrumentais. Ainda assim, roçam a mediania os previsíveis fraseados harmónicos, esqueleto musical que faz sustentáculo das orações vocalizadas da autora. Com um percurso a solo vinculado em disco às vicissitudes quotidianas, mormente nos melhores trabalhos, os elegantes Happiness (1993) e Geek the Girl (1994), Lisa Germano retoma o mesmo imaginário para este álbum, o esquadrinhamento patológico das disfunções do amor e da morte, exercício despido de presunção, antes profundamente íntimo e contemplativo. Assim acontece neste In the Maybe World. Estruturalmente básico, o disco é o reflexo das inquietudes simbólicas de Germano, percorrendo os arquétipos das canções de embalar, sem descambar para a vertigem delico-doce que se mostra, muitas vezes, neste tipo de composições. Evitado esse revés, In the Maybe World mostra-se mais do que um mero disco de baladas, mesclando universos de doçura pueril com rasgos de introspecção sobre a mundanidade da vida, revérberos de um espelho luminoso da existência humana. As canções quase não viveriam, assemelhando-se a feixes de holograma, quase sem corpo, não fora a consistência arrepiante da voz, excipiente privilegiado para a bonançosa catarse de Germano. Nesse sentido, o álbum é uma sentença existencialista, dispensa quaisquer abstracções e lança mão da honestidade típica da cantautora e da cortante sensibilidade com que aborda a morte, os amores a prazo e factos episódicos da sua própria vida. Tudo com uma fragilidade quase inexequível.

Musicalmente aquém de outros tomos de Lisa Germano, também nas letras In the Maybe World tem alguns equívocos. Uma vezes colando-se a uma poesia turva mas inteligente, noutros instantes fica refém de vulgaridades infantis e lugares comuns menos prestigiantes. Mesmo assim, o sétimo trabalho de Germano é uma escuta deslumbrante e, não sendo um fascículo excelso da cantora, deve prestar o serviço de repor Lisa Germano na órbita da freak-folk da moda. Ou isso ou mostrar-nos as passagens para uma sad pop atonal que se sente como uma aragem fria, medra com audições sucessivas e sacode as nossas percepções, mostrando-nos a rapsódia de um outro mundo. O talvez-mundo de Lisa Germano.

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