terça-feira, 29 de agosto de 2006

Scritti Politti - White Bread, Black Beer

Apreciação final: 6/10
Edição: Rough Trade/Edel, Junho 2006
Género: Pop Alternativa
Sítio Oficial: www.dosswerks.com/scc








Apesar de contar quase três décadas, o percurso dos Scritti Politti, palanque principal do galês Green Gartside, continua a pautar-se pela descontinuidade, se não no sentido estético e estrutural da música, pelo menos no carácter avulso das edições. Não estranha, portanto, que White Bread, Black Beer chegue a nós após um lapso de sete anos desde a última edição e, qual improbabilidade estatística desconcertante, seja apenas o quinto álbum dos Scritti Politti. Primeiro fruto do segundo renascimento do conceito (a banda já havia cessado actividades em 1990, ressurgindo em 1999 com Anomie & Bonhomie), agora resumido apenas a Gartside, White Bread, Black Beer desvia-se da subliminar ciência hip-hop desconchavada que poluía, com préstimo duvidoso, o antecessor. A escolha melódica continua a reflectir ecos dos Beatles, de Simon & Garfunkel, mesmo dos Beach Boys, em harmonias vocais armadas com discernimento, tão leves e subtis quanto a porção instrumental do disco, menos fervorosa e condensada no quase minimalismo de um pano de fundo. Essencialmente construído em redor do formato balada, cenário ideal para a voz juvenil de Gartside vaguear em quimeras pop, o disco faz da electrónica o condimento primário, a que se juntam curtas sílabas de guitarra acústica e percussões quase ausentes. Sobriedade, acima de tudo, era o melhor golpe ao alcance de Gartside, depois do revés de Anomie & Bonhomie. Se isso é conseguido, mormente na rudimentaridade doméstica das gravações, não são atenuadas as cláusulas abstractas e espaciais que tão bem encheram os melhores discos dos Scritti Politti. Tais matérias, tão caras a Gartside, apenas se redimensionam, partindo do recato de uma base mínima e chegando ao zénite através da voz, afinal é ela o veículo emocional do disco.

Intrigante como os outros trabalhos dos Scritti Politti, White Bread, Black Beer é uma colecção de melodias pop bizarras e íntimas, fruto da mente de um esteta solitário, um admirador da pop de escol e do detalhe. Única dúvida: o espectro contemporâneo da música estará preparado para esta máquina sintética de pop tresmalhada em melodias pós-punk? Com esse dilema na mente, Gartside parece ter tentado agradar a gregos e troianos, não interrompendo a fidelidade a um género menos amigo dos circuitos comerciais e, ao mesmo tempo, retendo o furor mercantil dos 80's. Nesse despique de sensibilidades, salva-se a excelência das melodias, mas nunca chega a perceber-se se White Bread, Black Beer anda à procura do pós-estruturalismo de um Brian Wilson ou se, pelo contrário, é prisioneiro numa cápsula temporal, estacionada algures no período áureo que os Scritti Politti chegaram a anunciar na década de oitenta.

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