sábado, 29 de abril de 2006

Gregor Samsa - 55:12

Apreciação final: 7/10
Edição: Own Records/AnAnAnA, Abril 2006
Género: Pós-Rock
Sítio Oficial: www.gregorsamsa.com








No universo kafkiano, o nome Gregor Samsa representa a desafortunada personagem d' A Metamorfose que, num claustrofóbico despertar, se descobre transformado numa gigantesca barata. No mundo da música, tal epíteto baptiza um quarteto americano convertido ao pulsar do pós-rock mais delicado e que se esmera por nos remeter para jogos mentais e ambientes sonoros em crescendo, conjugando as confissões matemáticas da guitarra eléctrica, a placidez do piano e o tom clássico das cordas. No fundo, a proposta não se distancia muito dos costumes dos canadianos Godspeed You Black Emperor! e Silver Mt. Zion, talvez até dos islandeses Sigur Rós. Esta é uma corrente musical que se interroga a si mesma, sacudindo a apatia de fórmulas gastas e alvitrando, sem pretensões, composições de música suspensa, como que incorpórea e sustida no ar, vogante e misteriosa, enchendo vácuos mentais e domando inquietudes. Nesse sentido, a música dos Gregor Samsa é uma terapêutica ansiolítica, um indutor de transes quedos. E é-o porque prende o ouvinte com as tramas de ritmos flutuantes, do sossego minimalista, quase ausente, às subidas íngremes, às implosões súbitas que, em breve tempo, se convertem em inscrições que a ressonância crava na mente. A voz, de aparição fantasmática, é imaterial e ensonada; não se arroga além do mínimo, é servente de algo maior, é fracção de um complexo indivisível.

55:12 é um disco cerrado. A música dos Gregor Samsa deflagra-se em compassos lentos, sem urgência de avançar para os remates. Eles preferem consumir o tempo nos processos, manuseando com desembaraço os fragmentos etéreos do som e do silêncio, tentando aderências improváveis para depois, com a mesma presteza, despegar as combinações e começar tudo de novo. Pena é que, nesses ciclos de ensaio, os lances de entendimento mais minimalista fiquem aquém da pompa mágica e do primor dos momentos mais completos. No primeiro longa-duração do quarteto (depois de dois EP), percebe-se que, mesmo sem oferecerem substâncias desconhecidas, os Gregor Samsa têm fôlego para prender a atenção. E para ganhar o seu espaço. Assim eles se acostumem à carcaça de barata com que acordaram numa estranha manhã...

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