quinta-feira, 27 de abril de 2006

The Legendary Tiger Man - Masquerade

Apreciação final: 7/10
Edição: NorteSul, Março 2006
Género: Blues/Rock
Sítio Oficial: www.legendarytigerman.com








Paulo Furtado (Wray Gunn, ex-Tédo Boys) é um guitarrista talentoso. Disso já não restavam dúvidas. Das outras edições sob o epíteto The Legendary Tiger Man também era fácil perceber a sua faceta de explorador e a propensão quase inata com que o músico se dedica a dissecar as raízes dos mais puros blues ou, num sentido mais lato (e ambicioso), a reinventar as passadas do rock alimentado a trinados hesitantes de guitarra. No fundo, o conceito é o exigente one-man band, embora neste tomo Furtado convoque outros artesãos, seja para incluir desvarios da mesa de mistura (DJ Nel'Assassin), seja para acrescentar outras especiarias de guitarra (Dead Combo), ou mesmo incluir a máscara soul de João Doce. Não só por isso (mas também), a fluência do registo é a prova evidente de que o som de Furtado está menos mecânico, menos previsível e com ritmos mais versáteis. A escrita das composições é também mais precisa e essa condição sai reforçada da cirúrgica produção de Mário Barreiros. De facto, o acondicionamento de estúdio deu outro corpo às canções de Furtado, sem lhes roubar a singularidade esparsa de outros álbuns, mas abrindo outros ângulos.

Masquerade pode muito bem ser a melhor amostra do alter-ego artístico de Paulo Furtado. Mais uma vez, o músico é incrivelmente hábil a construir um recanto sonoro ímpar, recortado pelo picotado de um álbum de sons da América sulista. Sons de estrada, de poeiras, de cactos e serpentes. E mulheres desejadas. Mulheres sem rosto e sem nome, depositadas em altares de veneração. Do lado de cá destas fantasias, o ouvinte assiste a um desfile de canções que não se resignam a regras. E que baralham (elogio!) os blues de outrora com o Furtado de hoje. Ele ou a máscara desse solitário homem tigre que mostra as garras nos intervalos dos Wray Gunn.

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