Apreciação final: 7/10
Edição: Cobra, Fevereiro 2006
Género: Experimental
Sítio Oficial: http://erro.planetaclix.pt/
Edição: Cobra, Fevereiro 2006
Género: Experimental
Sítio Oficial: http://erro.planetaclix.pt/
"Outra vez aquele som que se prende à parte de trás da tua mente". Assim escreve (e diz em jeito ressonante) João Palma na primeira frase do seu disco de estreia. Profecia ou petulância? O arquitecto lisboeta não é um músico de vocação, entregou-se a estas lides ao descobrir os favores do computador para fazer música, depois de ter sido instrumentista em alguns projectos locais da capital nacional. Em boa verdade, Isto é o quê, mãe? é música com uma forte componente experimental e onde se encaixam monólogos de reflexão existencialista. Não há palavras cantadas, elas cruzam-se com as texturas sonoras, em orações que retratam o quotidiano de um homem e de uma cidade. É, por isso, um álbum profundamente urbano, de sons polidos e de invenções progressistas. Depois, há qualquer coisa de maquinal, na intencionalidade com que os sons colados olham para dentro, mirando a face mais introspectiva do músico (e do cidadão) e buscando, com retóricas ironias, a purgação de impurezas do espírito. A música torna-se inevitavelmente convulsa, ora inquietante ora pacificadora, sublinhando os ecos agrestes que se libertam das palavras. Musicalmente, Isto é o quê, Mãe? pode não trazer conceitos revolucionários, nem a tal se candidata; é, antes de mais, um disco que resgata os esqueletos do armário, dá-lhes liberdade e margens dilatadas, a vogar algures entre os propósitos mais recentes da música electrónica de vanguarda (qualquer coisinha de Steve Reich), um cheirinho de rock com um lastro Joy Division ou Sonic Youth e qualquer coisa que só tem lugar nos imensos buracos negros do universo musical. Ou aí, ou nos cromos fugidios do álbum da vida de João Palma.
Isto é o quê, Mãe? é um disco ambivalente e com os tons cinzentos de uma Lisboa com arco-íris. Comove na mesma medida que perturba. É música fria e visceral, de temperamento orgânico, como se fôra o discurso de um mecanismo artificial à procura do sentimento. E, a despeito de instantes menos felizes, João Palma faz do seu Erro! uma criatura digital com vida. E, aqui e ali, nesta edição com a chancela da editora de Adolfo Luxúria Canibal, o músico faz-nos crer que, de moto próprio, alguns sons conseguem mesmo prender-se à parte de trás da nossa mente.
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