segunda-feira, 20 de março de 2006

Sepultura - Dante XXI

Apreciação final: 7/10
Edição: Steamhammer, Março 2006
Género: Heavy Metal/Thrash Metal
Sítio Oficial: www.sepultura.com.br








Depois das convulsões internas que levaram à deserção do antigo vocalista e líder Max Cavalera (hoje é a alma do projecto Soulfly), em 1996, os Sepultura foram forçados a um segundo tirocínio, precisamente no momento em que o seu percurso artístico chegara ao auge, com o aplauso da crítica à edição de dois álbuns referenciais do trash metal: Chaos A.D. (1993) e Roots (1996). À fase de problemas internos, seguiu-se uma certa travessia do deserto, com o recrutamento da nova voz do grupo (o americano Derrick Green) e alguns lançamentos sem a mesma chispa do período Cavalera. Com o êxito dos Soulfly, a censura subiu de tom, pressagiando a inaptidão do colectivo radicado no Brasil para sobreviver sem o seu mentor. Indiferentes às vozes de discórdia, os Sepultura seguiram o seu caminho, maturaram processos e, sem caírem na tentação de copiar o passado, tentaram ressuscitar o élan e recuperar o protagonismo que, por mérito próprio, haviam conquistado. Roorback (2003) foi o primeiro passo nesse sentido, mostrando um Derrick Green cada vez mais cómodo e resgatando o fervor thrash de outros tempos. Dante XXI é o mais recente produto do renascimento da banda e toma a mesma doutrina do antecessor. A primeira evidência que decorre da audição do novo disco é o crescimento da química entre os elementos da banda, resultando num som de crueza imaculada, ora no registo acelerado ora nos tons mais sombrios. Também Green está mais solto, definitivamente livre de fantasmas e acrescenta às texturas a diversidade vocal (em certos instantes faz lembrar Jaz Coleman dos Killing Joke) que não existia em Roorback. A nível técnico, Andreas Kisser continua a servir-se da guitarra como poucos na cena metal, arquitectando riffs com boa intensidade rítmica, contando com a preciosa ajuda das percussões explosivas de Igor Cavalera e do baixo firme de Paulo Jr.. Se isso não basta, este álbum ainda tem espaço para introduzir as cordas no catálogo dos Sepultura, mormente no recurso a violinos na sublime "Ostia".

Inspirado na magna "Divina Comédia" de Dante, também dividida em três partes (o Inferno, o Purgatório e o Paraíso), o álbum tem as dimensões de uma obra conceptual e demonstra um balanço quase perfeito entre a fúria incontida e o refinamento estético das texturas. Talvez pudesse ir mais além no arrojo das composições, mesmo na apresentação dos segmentos de cordas, mas não restem dúvidas de que há aqui puro T.N.T.. De permeio entre as partes do disco, estão quatro mini-peças (pequenas demais?) instrumentais que, por um lado, dão um descanso aos tímpanos e permitem recuperar o fôlego e, por outro, acrescentam condimentos ao cardápio. Dante XXI é, seguramente, o melhor trabalho da era-Green e, à luz das teses dantescas, não estará no Inferno, tampouco no Paraíso. É mais um avanço para galgar a montanha que Dante imaginou como passagem das almas da superfície terrena para as portas do Paraíso. De Dante, os Sepultura atraem esse purgatório, algo que começaram depois de Max Cavalera. Dante XXI mostra que eles estão um bocadinho mais perto do Éden.

1 comentário:

Unknown disse...

Sinceramente, não sei se vais gostar do álbum por inteiro. Tenho as minhas dúvidas. Mas acho que, depois de escutares o disco, vais concordar comigo numa coisa: eles estão seguramente mais maduros e conseguem com Dante XXI umas coisinhas que ainda não tinham feito. Depois disto, só lhes falta um bocadinho assim para serem a banda que podem ser...