Apreciação final: 7/10
Edição: Stones Throw, Fevereiro 2006
Género: Rap Underground/Sampling/Beats
Sítio Oficial: www.stonesthrow.com/jdilla
Edição: Stones Throw, Fevereiro 2006
Género: Rap Underground/Sampling/Beats
Sítio Oficial: www.stonesthrow.com/jdilla
Produtor reputado na cena hip-hop, J Dilla mereceu o reconhecimento artístico da elite do género, caindo nas graças de nomes como De La Soul, Common ou Busta Rhymes. Por ironia do destino, a doença prolongada que recentemente o tinha forçado a fazer a última tournée europeia sentado numa cadeira de rodas, haveria de roubá-lo à vida pouco tempo antes da edição deste segundo álbum, com 32 anos. Mais do que um requiem, Donuts é uma amostra da mestria inestimável do ex-membro dos Slum Village, um misto hip-hop / soul, firmado numa infalível cadeia de samples. A sucessão das faixas prova a perícia na escolha das várias fracções musicais, armando um corpo musical que, por pescar em referências mais e menos óbvias, esboça um espaço sonoro moderno. Todavia, a amplitude do disco é artesanal (bastam a J Dilla um drum kit, um sampler e alguns discos empoeirados), como convém a alguém desta estirpe, ousando cortar a maioria das composições e os melhores fraseados melódicos abaixo dos dois minutos sem pensar em criar-lhes as transições da praxe. No fundo, Donuts não é um álbum clássico de beats - tem muitas fracturas para isso - e é mais um esquizofrénico esquisso, uma confusão bem arrumada de uma miríade de pedaços musicais, sem sequência lógica (ou podermos chamar-lhe lógica desconstrutiva?). Mais do que o trabalho de um músico, trata-se de um apurado exercício de produção de um musicólogo, um especialista em retratar as várias dimensões do hip-hop e respectivas mestiçagens com a soul.
Donuts é um documento abarrotado de fatias de história. Não tanto a história da música, nem sequer a narrativa da música negra. Jay Dee não se atreveria a tal. A biografia encriptada por detrás deste som é a de um homem refém da doença e que, rodeado de discos que lhe marcaram a curta existência, nos mostra, cruamente, o seu engenho. E a suprema ironia do seu talento (da sua despedida) é tão refinada que escapa aos mais distraídos: os cortes abruptos nos loops e nos samples, muitas vezes no ponto mais cativante das composições, são a forma de Jay Dee se despedir, na linguagem que mais aprecia - a música - com grandes canções que, mesmo que cortadas subitamente (e até de forma iníqua), não deixam de ser grandes canções. Tal como a vida que a sina tirou a Jay Dee.
1 comentário:
Faço uma vénia a este senhor! Partiu muito cedo...Deixou-nos as provas dum dos maiores talentos do hip hop.
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