domingo, 5 de março de 2006

The Knife - Silent Shout

Apreciação final: 8/10
Edição: Rabid Records, Março 2006
Género: Electrónica/Pop Experimental
Sítio Oficial: www.theknife.net








Depois de uma estreia auspiciosa com o magnífico Deep Cuts (2004), mano e mana Dreijer voltam a remarcar fronteiras com o mais recente trabalho. E fazem-no manejando probabilidades de um futuro digital, arriscando esboços de retratos sonoros de um universo em que o humano se subjuga à máquina. O som é, por isso, mecânico, quase cinicamente calculista quando se deixa coar pela tecnologia e por ela se rege. As expressões melódicas são governadas por sintetizadores, ou não fosse essa a sonda preferida dos The Knife, e erguem um edifício sonoro que, conservando as máximas típicas da dupla, se encaminha para planos que apuram os vectores industriais do som, em torno de um imaginário mais sombrio e frio. Frio da Suécia. Até a voz (em permanentes mutações) se rende à superioridade gélida da tecnologia e se apresenta mascarada por vocoders e outros efeitos, inflitrando-se submissa à batuta dos sintetizadores, arredada do epicentro da intensidade do disco. Seja ou não um disco desumanizado - porque pejado de corantes e conservantes - curioso mesmo é perceber que um produto assim mecânico, frio e formal, como que engenhado maquinalmente, produz impressões tão autênticas que, se não são um sucedâneo quase perfeito, andam bem perto das emoções humanas. A máquina dos The Knife também sente.

Musicalmente, Silent Shout refina as ideias da dupla sueca apontando a um padrão único de coesão e precisão clínica. Nesta cirurgia (ou siderurgia?) de sons, marca pontos a versatilidade vocal de Karin, a colorir histórias que invocam uma família de personagens grotescas: navegadores solitários, algozes com crise de identidade, hermafroditas, viciados em T.V., entre outros. Em qualquer dos casos, os Knife guardam para si a mais irónica das prerrogativas. Usam a máquina sci-fi, governam-na como uma marioneta e dão-lhe a ilusão da prevalência. Afinal, a derradeira arma de defesa das investidas da máquina está intacta, ou não bastasse desligar a ficha da tomada para suster-lhe o ímpeto. Mas, com música deste calibre, apetece deixar que as máquinas mandem mais um pouquinho. Ou, o que é o mesmo em Silent Shout, que as mãos escondidas na ponta dos cordéis das marionetas sigam assim talentosas por muitos e bons anos e que, de cada vez que se revelem, nos tragam um pedacinho mais da quintessência do futuro. Se encontrar um amanhã melhor, os Knife devolvem a diferença.

3 comentários:

Unknown disse...

ENAA! Muito bom mesmo :) Só comprei o CD na semana passada :S Descobri os The Knife em 2005 via Röyksopp através do álbum 'The Understanding'. Acho que ainda fui a tempo :)

Pedro Teixeira disse...

Apenas para notar que os The Knife se estrearam em 2001 com o álbum homónimo. E que o Deep Cuts foi editado em 2003. No resto, não podia concordar mais com a análise.

Continuação do bom trabalho.

Anónimo disse...

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